terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

MG: Tijolo sustentável pode democratizar acesso à moradia em São Gonçalo do Sapucaí

Ideia criada por jovens do SESI reduz impactos ambientais causados pelo setor da construção civil e aproxima brasileiros do sonho da casa própria

Foto: arquivo pessoal 
 


Com o objetivo de tornar o direito à moradia mais acessível em São Gonçalo do Sapucaí, sete alunos da unidade do SESI desenvolvem um pré-moldado de terra comprimida, semelhante a um tijolo, para ser utilizado na construção de casas populares. Uma das inovações do projeto é na forma do encaixe, que já virá embutido no bloco e será feito de bambu. A iniciativa é uma das selecionadas para participar da etapa regional do principal torneio de robótica do país, que ocorre neste fim de semana (15 e 16 de fevereiro), em Contagem (MG). 
Os melhores times desta etapa garantem vaga na disputa nacional, que será realizada em São Paulo de 6 a 8 de março. Ao todo, 37 equipes de escolas públicas, privadas e da rede SESI SENAI participam do torneio, sendo 26 representando o SESI de Minas Gerais.  
“Quando utilizado em casas populares de até um pavimento, você não vai precisar usar ferragem. Com a fundação da casa, já pode começar a construir com o bloco, e o material para vedá-lo é feito do próprio material do bloco, composto por terra, areia, fibra de bambu, cal e água”, adianta Heloísa Filipini, de 15 anos.
A construção civil é a indústria que mais gera impactos ambientais, como consumo de água em excesso para produção de insumos até mudanças na vegetação e no solo. É também responsável por 30% a 40% das emissões de carbono no mundo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Pensando nisso, uma das vantagens do projeto, segundo a equipe, é que o bloco será 100% sustentável.
“Vimos que a construção civil é a base de tudo, tudo está relacionado a ela. Mas a falta de sustentabilidade nesse setor ainda é muito grande”, constata Heloísa. Foi a partir daí que a equipe idealizou o projeto do bloco sustentável, como uma forma de aproximar os brasileiros do sonho da casa própria. “O nosso projeto não é a venda do bloco, é a democratização da técnica. A gente uniu e resgatou várias técnicas de construção, padronizou as medidas e desenvolveu essa forma”, explica a jovem.
A técnica Rafaella Azzi afirma que o trabalho de pesquisa foi intenso e conta que especialistas do setor da construção civil ajudaram os estudantes a pensar no projeto. “Muitos ensaios estão sendo feitos, eles estão escolhendo as fibras naturais que dão mais aderência e resistência ao bloco. A ideia é que esses blocos tragam alternativa para os materiais de construção civil, que tanto trazem resíduos e poluição ao meio ambiente, além de desperdício”, espera.
A equipe criou a forma para esse novo tijolo e agora está em busca de uma empresa que possa o produzir em aço, para que seja mais durável. “Queremos disponibilizá-lo nas cidades, nas prefeituras, nas comunidades, para que o cidadão, principalmente aquele de baixa renda, possa ter acesso a esse bloco e ter a oportunidade também de trabalhar em alguma obra social que cause baixo impacto no meio ambiente”, completa a treinadora.
Após o intenso trabalho, Rafaella diz que tem sido gratificante ver o esforço de Heloísa, Beatriz Manso, Enrico Braga, João Paulo Brandão, Lucas Hokari, Murilo Araújo, Pedro Paulo Junqueira, alunos que trabalham diariamente na elaboração do projeto.
“Acreditamos que a proposta é viável, traz um impacto tanto para a comunidade quanto para o cidadão, uma vez que o acesso à moradia é direito de todos. A democratização que eles querem fazer, além de todos terem acesso, é disponibilizar a receita para fazer esse tijolo para que várias pessoas possam utilizar, com material da própria natureza”, conta orgulhosa.
A competição
O Torneio de Robótica FIRST LEGO League reúne 100 equipes formadas por estudantes de 9 a 16 anos e promove disciplinas, como ciências, engenharia e matemática, em sala de aula. De 31 de janeiro a 16 de fevereiro, haverá as disputas regionais. Os melhores times garantem vaga na etapa nacional, que ocorre em março, em São Paulo.
O objetivo é contribuir, de forma lúdica, para o desenvolvimento de competências e habilidades comportamentais exigidas dos jovens. Todo ano, a FLL traz uma temática diferente. Em 2020, os competidores terão que apresentar soluções inovadoras para melhorar, por exemplo, o aproveitamento energético nas cidades e a acessibilidade de casas e prédios.
Para o assistente técnico do SESI de Minas Gerais e responsável pela área de robótica, Natan Azevedo, experiências como essa fazem com que os alunos estejam mais preparados para o mercado de trabalho. “Eles já saem praticamente com todas suas capacidades técnicas trabalhadas na competição e ainda saem preparados para trabalhar em equipe, falar em público ou desenvolver pesquisas. Isso tudo é trabalhado no torneio”, enumera.
 

Jalila Arabi

 

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