sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Piso tátil, abrigo contra chuva e limpeza de ruas com laranja; conheça projetos das equipes de Goiânia (GO) no Torneio de Robótica FIRST LEGO League 2020

Estudantes das unidades do SESI de Vila Canaã e do Jardim Planalto desenvolveram projetos de acessibilidade e de desenvolvimento urbano para a competição nacional, que ocorrerá em São Paulo, em março

Foto: integrantes da equipe "LIFE" / Arquivo Pessoal

Goiânia já é reconhecida por ser celeiro de grandes projetos de robótica. Em 2019, a equipe do SESI Canaã foi a grande vencedora do Torneio de Robótica FIRST LEGO League (FLL), a maior competição do mundo de robótica. Para 2020, os alunos da capital goiana tiveram que dedicar o tempo para achar soluções inovadoras que transformem as cidades em espaços mais inteligentes, a pedido do tema desta edição: batizada de City Shaper. Isso dá aos estudantes o poder de ajudar a construir espaços cada vez melhores. 
O Torneio de Robótica FLL reunirá 100 equipes formadas por estudantes de 9 a 16 anos, de escolas públicas e particulares. A ideia é promover disciplinas como ciências, engenharia e matemática, em sala de aula, de forma lúdica. A etapa nacional que os alunos de Goiânia irão participar será em São Paulo, entre os dias 3 e 6 de março. 
Conheça alguns dos projetos selecionados em Goiânia:
Piso especial para cegos
É do SESI Canaã que sairá um projeto que pretende ressignificar o piso tátil. Alunos da equipe “LIFE” criaram quatro novos modelos de piso, inclusive, para áreas internas, feitos de material adesivo e com velcro. Os pisos são para orientação de faixa de pedestre, de semáforos, de descidas e subidas de calçadas. A intenção é ampliar os locais de acesso dos deficientes visuais com segurança. 
Segundo o mentor do grupo, o aluno João Vítor dos Santos Soudré, 15 anos, o projeto saiu da necessidade dos deficientes visuais, que estão em maior grupo no país. “Um aluno falou que gostava muito de ir ao cinema, ouvir os filmes, mas não ia porque, no shopping, é difícil ter piso tátil. Dentro do cinema não tem e para ir sozinho é difícil, sempre precisa de companhia e, quando não tem, não vai. Aí a gente foi e falou: temos que resolver isso”, conta o estudante.
João Vítor e os colegas de equipe terão um exemplo bom para mirar, que é o resultado da equipe Gametech, em 2019. A equipe venceu o maior prêmio do Torneio de Robótica FLL, com o projeto de um chiclete de pimenta para ajudar astronautas a sentirem o gosto dos alimentos, quando estão em viagem espacial.
Para o técnico da equipe LIFE, José Nazaré Barros Junior, o modelo de educação baseado no desenvolvimento de projetos e soluções para a sociedade deve ser seguido no restante do país, em todas as unidades de ensino. “É o modelo que dá certo. A educação tinha que ser repensada e parecida com o que fazemos aqui, na robótica, onde se desenvolve projetos o tempo inteiro que prepara os alunos para a vida e o futuro, não só em termos de qualidade profissional, mas também de caráter, que é algo que a gente sente muita falta, hoje, no mercado”, pondera o orientador.
Proteção para motociclistas 
Alunos do SESI Planalto decidiram criar algo para dar mais segurança aos motociclistas da capital. Ao perceberem que muitos paravam de forma irregular embaixo de viadutos e ao longo das pistas na hora da chuva, os alunos pensaram em desenvolver um abrigo.
Com a ajuda da tecnologia, inovaram e criaram um feito de bambu e de tijolo e telha sustentáveis, o Recurso de Segurança para Motociclista (RSM). O material deixa a estrutura seis vezes mais resistente e não prejudica o meio ambiente por não precisar da combustão da madeira. 
Uma das integrantes da equipe “LJ Origens”, Mariane Mamede Vaz dos Reis, 12 anos, conta que a estrutura terá 22,5 metros de comprimento; 2,5 metros de altura e 5,3 metros de largura, um tamanho que permitirá que 15 motos parem ao mesmo tempo.
“Mesmo que esse projeto não nos dê algum prêmio no torneio, a gente sente que está ajudando a sociedade, a melhorar nossa cidade e a preservar a vida dos motociclistas, que é o mais importante”, observa Mariane.




Limpeza com laranja

Subir nas árvores de jamelão para comer os frutos ou colher os que já estão caídos no chão é algo que faz parte – ou já fez – da vida de muitas pessoas que gostam da frutinha. Em Goiânia, são cerca de 3,5 mil árvores do tipo. Mas elas têm oferecido mais do que sombra e sabor: perigo na época de chuva. O fruto que cai no chão solta uma gordura quando entra em contato com a água e deixa as vias escorregadias. 
Os alunos da equipe “Titans”, também do SESI Planalto, criaram o Líquido Solvente Sustentável (LSS), um produto de limpeza à base de laranja para anular o efeito dessa gordura. Os alunos apostaram no LSS como uma alternativa para a solução apresentada pela prefeitura para o problema, que foi a de podar ou substituir as árvores. De acordo com as pesquisas da equipe, demoraria uma década para repor a vegetação. 
A representante do grupo, Lorrany Gonçalves Cirqueira, 15 anos, conta que há 54 vias com a esse tipo de árvore em Goiânia, e que em apenas uma via, a Rua Atílio Corrêa Lima, foram 16 acidentes em um dia, ocasionados pela junção de jamelão e água. A jovem explica que o suco da laranja contém limoneno, o responsável por anular a gordura do jamelão. “Basicamente, o suco da casca da laranja é um desengordurante natural, o limoneno. E existem caminhões pipas próprios para o transporte desse tipo de substância”, explica. 
Lorrany dividirá a função de apresentar a inovação na competição de robótica com outros sete colegas de turma. Segundo ela, os desafios são “grandes”, mas o orgulho de estar nesse contexto é muito maior. “Fico muito orgulhosa de poder estar fazendo parte disso, de na minha idade já estar fazendo algo que possa resolver um problema da minha cidade. E fico muito feliz de estar fazendo isso dentro da minha equipe, podendo salvar a vida de muitas pessoas”, afirma a estudante. 
Para o professor de Robótica do SESI Planalto e técnico das equipes Titans e LJ Origens, Fernando da Silva Barbosa, é possível ver a transformação dos alunos durante o processo de preparação. “Vemos uma transformação muito grande. A gente até brinca com os meninos, dizendo ‘nossa, como vocês cresceram tanto de dois meses pra cá’. E estamos falando de crescimento de capacidade, de ter uma visão diferente, um olhar que não tinha. Demos a oportunidade de ver a cidade de uma maneira diferente: pensar que são parte integrante e são agentes transformadores de qualquer coisa que tenham acesso e saibam que podem transformar”, relata o professor.
Além das três equipes, a equipe de Robótica NanoMasters também foi selecionada para a etapa nacional, com o projeto NOTIFYC,  um sistema autônomo de identificação de notificação de alagamentos , por meio de sensores medidores de níveis de água nas vias com risco de alagamentos. A ideia da equipe é, a princípio, instalar o NOTIFYC nos 91 pontos críticos de alagamento de Goiânia. Os pontos já foram identificados, cadastrados e mapeados pela prefeitura da cidade.





A competição

O Torneio de Robótica FIRST LEGO League reunirá 100 equipes formadas por estudantes de 9 a 16 anos e promove disciplinas, como ciências, engenharia e matemática, em sala de aula. Até 16 de fevereiro, haverá as disputas regionais. Os melhores times garantem vaga na etapa nacional, que ocorrerá em março, em São Paulo.
O objetivo é contribuir, de forma lúdica, para o desenvolvimento de competências e habilidades comportamentais exigidas dos jovens. Todo ano, a FLL traz uma temática diferente. Em 2020, os competidores terão que apresentar soluções inovadoras para melhorar, por exemplo, o aproveitamento energético nas cidades e a acessibilidade de casas e prédios.
O diretor de Operações do Departamento Nacional do SESI, Paulo Mol, ressalta que a elaboração dos projetos estimula a autonomia e o trabalho em equipe e contribui para a formação profissional dos alunos. “A questão do empreendedorismo é a base de todo o processo. Nesse torneio, uma das avaliações que é extremamente importante é a capacidade de empreender, de buscar coisas novas, de fazer com que o produto seja desenvolvido”, atesta.







Camila Costa

Jornalista formada há 10 anos, foi repórter de política no Jornal Tribuna do Brasil, do Jornal Alô Brasília e do Jornal de Brasília. Por cinco anos esteve no Correio Braziliense, como repórter da editoria de Cidades. Foi repórter e coordenadora de redação na Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), vinculada à Presidência da República. Recebeu, por duas vezes, o Prêmio PaulOOctavio de Jornalismo e, em 2014, o Prêmio Imprensa Embratel/Claro 15° Edição. Hoje, Camila é repórter da redação da Agência do Rádio.

 

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