Parlamentar repreende postura do governo de reduzir contribuições por três meses; objetivo, segundo ele, “nada tem a ver com combate ao coronavírus”
A
decisão do governo federal de reduzir pela metade, até 30 de junho, as
contribuições recolhidas pelas empresas para financiar instituições do
Sistema S, foi alvo de críticas no Congresso Nacional. Segundo o
deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), o corte previsto na Medida
Provisória 932/20 amplia os impactos da pandemia de Covid-19 na economia
do país, ao contrário do que defende o Planalto.
Para o parlamentar, a medida “não tem fundamento” e é uma forma de
“enfraquecer” instituições como SESI e SENAI, que prestam assistência de
saúde e levam educação de qualidade para as famílias mais carentes do
estado.
“É injusto que o Ministério da Economia tente aproveitar o momento de
crise para alcançar um objetivo que nada ter a ver com o combate ao
coronavírus. O Sistema S teve a sensibilidade de canalizar parte de seus
recursos, do seu esforço e da sua expertise para ajudar o Brasil no
combate ao coronavírus, além de reduzir danos decorrentes dessa
pandemia”, critica Ramos.
Quem também condena a atitude tomada pelo governo federal é o
presidente do Sindicato dos Economistas do Amazonas, Marcus Evangelista.
Ele aponta que o corte previsto na MP prejudica quem não têm condições
de arcar com uma ajuda médica, já que o SESI é referência nessa área no
estado.
“O SESI tem uma grande importância para o nosso estado, uma vez que
atende não só quem trabalha na indústria, como a sociedade de uma
maneira geral. Na parte social, por exemplo, o SESI tem a maior creche
do nosso estado. Isso acaba amenizando o sofrimento daquela mãe que não
tem onde deixar os filhos. É um preço subsidiado, bem abaixo do
mercado”, cita Evangelista.
O economista enumera ainda que o SESI oferece atendimento em diversas
especialidades médicas por meio de duas clínicas localizadas no centro e
na Zona Leste da capital. A contribuição do SENAI, segundo Evangelista,
também é importante ao levar educação para locais distantes dos grandes
centros. “O SENAI possui dois barcos que levam uma gama de ensino
técnico e profissional para as pessoas que residem no interior e estão
isoladas pelos rios”, acrescenta.
Impactos negativos
Responsável por administrar SESI e SENAI, a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) alega que o corte de 50%, estendido a entidades ligadas
ao comércio, transporte, cooperativismo e setor rural, vai afetar “de
forma drástica” a assistência prestada à população, em especial na
educação básica de jovens de baixa renda, no atendimento à saúde do
trabalhador e na formação profissional.
“Ao reduzir os recursos destinados ao SESI e ao SENAI, sob a
justificativa de aliviar o caixa das empresas, o governo cria outro
problema muito maior: desarticula e, em alguns casos, inviabiliza a
principal rede de apoio à tecnologia e à inovação de empreendimentos
industriais”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Com orçamento menor, o fechamento de escolas, vagas de qualificação e
até demissões de trabalhadores podem ser tornar realidade. O SENAI
estima que 136 centros de educação profissional e de serviços
tecnológicos e de inovação podem ser fechados e 830 mil vagas de
qualificação profissional podem deixar de ser ofertadas.
Já o SESI teme que 150 escolas e centros de atendimento à saúde do
trabalhador fechem as portas e 217 mil vagas para alunos de educação
básica e continuada deixem de existir. A instituição prevê ainda que 1,9
milhão de pessoas poderão sofrer com a falta atendimentos em saúde. Até
a estrutura de ciência e tecnologia mantida por SESI e SENAI pode ser
afetada com os cortes e gerar a demissão de especialistas e
pesquisadores que formam a maior rede de apoio à inovação do país.
Combate ao coronavírus em risco
Desde que a pandemia de Covid-19 agravou a crise econômica e social
no país, SESI e SENAI têm unido esforços para ajudar, em parceria com
setores da indústria e federações estaduais, a suprir hospitais públicos
com insumos e equipamentos necessários ao tratamento infectados, como
máscaras, aventais e respiradores mecânicos. Além disso, as duas
instituições destinaram, por meio do Edital de Inovação, R$ 15 milhões
para projetos que tenham aplicação imediata e sejam destinados a
prevenir, diagnosticar e tratar pacientes com coronavírus.
O SENAI também já colocou à disposição, de forma gratuita, 100 mil
vagas em cursos à distância com temas ligados à indústria 4.0, enquanto o
SESI, tem realizado vacinações contra a gripe comum em diversos
estados, com capacidade imunizar até 1,4 milhão pessoas.
Caso o corte anunciado pelo governo seja mantido, o presidente da CNI
indica que essas ações podem ser suspensas e até canceladas. “O Sistema
Indústria está à disposição das autoridades brasileiras para adotar
outras iniciativas que se façam necessárias no combate à Covid-19. Para
isso, é fundamental que a redução nas contribuições feitas pelas
empresas ao SESI e ao SENAI seja revista, para que possamos ajudar a
salvar empresas, empregos e vidas”, sustenta Robson Andrade.
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