Enquanto Nordeste apresenta menor cobertura de abastecimento de água (69%), Sul está próximo da universalização (97%), segundo o IBGE
Direito
assegurado pela Constituição Federal, os serviços de saneamento básico
ainda não são uma realidade para todos os brasileiros, principalmente os
que vivem no Norte e Nordeste. Apesar de em 2019 o Brasil ter atingido
97,6% dos domicílios com água canalizada e 88,2% com acesso à rede geral
de abastecimento, as desigualdades regionais contribuem para a má
distribuição dessa cobertura. É o que mostra levantamento do IBGE,
divulgado na última quarta-feira (6).
Segundo a pesquisa, em 85,5% dos domicílios, a principal fonte de
abastecimento de água é a rede geral de distribuição. A região Nordeste
apresenta a menor cobertura diária de abastecimento, com 69%, enquanto a
Sul tem a maior, com 97%.
“Isso engloba, no Brasil, cerca de 18 milhões de pessoas, de
moradores em domicílios em que essa disponibilidade não é diária. Sendo
que desse total, cerca de 11 milhões estão concentrados na região
Nordeste do país”, aponta a gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), Adriana Beringuy.
São Paulo é o estado que lidera o ranking da rede geral de distribuição de água diária, que chega a 14,8 milhões de domicílios. No Nordeste, Sergipe tem o menor índice e abastece somente 477 mil residências. A pior cobertura do país é a do Acre, onde apenas 54 mil domicílios contam com fornecimento regular de água.
Na comparação com 2018, o Centro-Oeste teve aumento na
disponibilidade diária de rede geral de abastecimento. A região passou
de 87,1% para 94,9%, no ano passado. Segundo o IBGE, esses números
demonstram recuperação do patamar registrado antes da crise de
abastecimento de água em 2016, provocada pela estiagem.
Rede geral de esgotos
Os dados referentes ao esgotamento sanitário também tiveram avanço em
2019, com cerca de 68% dos domicílios no Brasil com acesso à rede geral
coletora de esgoto. De 2018 para 2019, dois milhões de domicílios a
mais passaram a ter acesso ao serviço. Isso ocorreu, inclusive, em
regiões mais carentes de coleta e tratamento de esgoto, como no Norte e
no Nordeste – as regiões terminaram o último ano com uma taxa de
cobertura em 27,4% e 47,2%, respectivamente.
A evolução, segundo Adriana Beringuy, ainda é lenta e está aquém do
esperado. “Em 2019, são cerca de 70 milhões de moradores em residências
que não possuem acesso à rede geral. Desse total, aproximadamente 28
milhões estão em domicílios onde o destino do esgotamento é considerado
bastante insatisfatório, principalmente porque ele é feito através de
foças rudimentares ou é jogado diretamente no terreno, no meio ambiente,
como valas, rios e lagos”, revela.
Para o engenheiro civil e sanitarista, Ricardo Silveira, os números
ilustram uma realidade vivida por milhões de brasileiros que não tem
condições mínimas para sobreviver.
“Pegando o exemplo da covid-19, o que é consagrado como uma medida preventiva muito importante é lavar as mãos. Ou seja, higienizar com sabão, lavar roupas e tudo mais. Alguém que não tenha água em abundância no seu domicílio não consegue, às vezes, nem lavar as mãos. É inimaginável você não ter essa água em quantidade suficiente para poder garantir a sua saúde”, lamenta.
“A coleta de esgoto representa o outro lado da moeda. Se eu não tenho um tratamento e uma disposição adequada, as pessoas convivem com aquela água que é potencialmente perigosa para a saúde”, complementa Silveira.
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