quarta-feira, 13 de maio de 2020

Apesar de avançar em 2019, indicadores de saneamento básico escancaram abismo entre regiões do país

Enquanto Nordeste apresenta menor cobertura de abastecimento de água (69%), Sul está próximo da universalização (97%), segundo o IBGE

Foto: Arquivo/EBC

Direito assegurado pela Constituição Federal, os serviços de saneamento básico ainda não são uma realidade para todos os brasileiros, principalmente os que vivem no Norte e Nordeste. Apesar de em 2019 o Brasil ter atingido 97,6% dos domicílios com água canalizada e 88,2% com acesso à rede geral de abastecimento, as desigualdades regionais contribuem para a má distribuição dessa cobertura. É o que mostra levantamento do IBGE, divulgado na última quarta-feira (6).
Segundo a pesquisa, em 85,5% dos domicílios, a principal fonte de abastecimento de água é a rede geral de distribuição. A região Nordeste apresenta a menor cobertura diária de abastecimento, com 69%, enquanto a Sul tem a maior, com 97%.
“Isso engloba, no Brasil, cerca de 18 milhões de pessoas, de moradores em domicílios em que essa disponibilidade não é diária. Sendo que desse total, cerca de 11 milhões estão concentrados na região Nordeste do país”, aponta a gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), Adriana Beringuy.





São Paulo é o estado que lidera o ranking da rede geral de distribuição de água diária, que chega a 14,8 milhões de domicílios. No Nordeste, Sergipe tem o menor índice e abastece somente 477 mil residências. A pior cobertura do país é a do Acre, onde apenas 54 mil domicílios contam com fornecimento regular de água.



Na comparação com 2018, o Centro-Oeste teve aumento na disponibilidade diária de rede geral de abastecimento. A região passou de 87,1% para 94,9%, no ano passado. Segundo o IBGE, esses números demonstram recuperação do patamar registrado antes da crise de abastecimento de água em 2016, provocada pela estiagem.
Rede geral de esgotos
Os dados referentes ao esgotamento sanitário também tiveram avanço em 2019, com cerca de 68% dos domicílios no Brasil com acesso à rede geral coletora de esgoto. De 2018 para 2019, dois milhões de domicílios a mais passaram a ter acesso ao serviço. Isso ocorreu, inclusive, em regiões mais carentes de coleta e tratamento de esgoto, como no Norte e no Nordeste – as regiões terminaram o último ano com uma taxa de cobertura em 27,4% e 47,2%, respectivamente.
A evolução, segundo Adriana Beringuy, ainda é lenta e está aquém do esperado. “Em 2019, são cerca de 70 milhões de moradores em residências que não possuem acesso à rede geral. Desse total, aproximadamente 28 milhões estão em domicílios onde o destino do esgotamento é considerado bastante insatisfatório, principalmente porque ele é feito através de foças rudimentares ou é jogado diretamente no terreno, no meio ambiente, como valas, rios e lagos”, revela.
Para o engenheiro civil e sanitarista, Ricardo Silveira, os números ilustram uma realidade vivida por milhões de brasileiros que não tem condições mínimas para sobreviver.



“Pegando o exemplo da covid-19, o que é consagrado como uma medida preventiva muito importante é lavar as mãos. Ou seja, higienizar com sabão, lavar roupas e tudo mais. Alguém que não tenha água em abundância no seu domicílio não consegue, às vezes, nem lavar as mãos. É inimaginável você não ter essa água em quantidade suficiente para poder garantir a sua saúde”, lamenta.
“A coleta de esgoto representa o outro lado da moeda. Se eu não tenho um tratamento e uma disposição adequada, as pessoas convivem com aquela água que é potencialmente perigosa para a saúde”, complementa Silveira.



Marquezan Araújo

Marquezan é formado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), atuou como âncora de jornal radiofônico e locutor de programa musical. Passou por estágios na Agência Brasil e na Rádio Nacional, da EBC. Repórter da Agência do Rádio desde 2016, acompanha as movimentações do Legislativo no Congresso Nacional.

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