Segundo o secretário nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas, Quirino Cordeiro Filho, mapeamento ajudará a identificar atuação do narcotráfico no Brasil
O
governo federal investiu quase um milhão de reais em uma pesquisa para
coletar dados sobre o consumo de drogas por meio da análise do esgoto de
seis cidades do país. O estudo é desenvolvido por pesquisadores da
Universidade de Brasília (UnB) e foi aplicado pela primeira vez na
capital há 10 anos. Agora, a União custeia a expansão da coleta de dados
para outras cinco cidades: Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Carlos
(SP), Campinas (SP) e Natal (RN). O objetivo é que as informações sejam
usadas como base para políticas públicas relacionadas ao uso de
substâncias ilícitas.
A técnica, conhecida como “epidemiologia
do esgoto”, usa reagentes químicos para identificar produtos que são
eliminados pelos dejetos dos usuários de drogas. As amostras são
coletadas diretamente nas estações de tratamento de esgoto e levadas ao
laboratório. Os pesquisadores tomam o cuidado de recolher porções ao
longo do dia para que o horário não interfira no resultado.
“Você consegue ter uma comparação entre
cidades e entre regiões de uma mesma cidade. Em termos de saúde, por
exemplo, isso pode ser útil para você deslocar profissionais e conduzir
de maneira mais efetiva campanhas de conscientização. Do ponto de vista
de educação, com esses dados é possível preparar melhor formadores e
professores, trabalhar junto com escolas, comparar os resultados com
níveis de repetência ou de aproveitamento escolar”, aponta o professor
do Instituto de Química da UnB, Fernando Fabriz Sodré.
Em
Brasília, os pesquisadores puderam usar essa técnica em 2012 para
mostrar que as áreas nobres lideravam o ranking de consumo de cocaína no
DF e que a quantidade usada dobrava durante o fim de semana. Dois anos
depois, o estudo também mostrou que o consumo de cocaína na capital
disparou durante a Copa do Mundo.
Base para políticas públicas
A expansão do estudo para as demais
cidades é paga com o orçamento do Ministério da Cidadania. Por meio da
Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas, a pasta é
responsável por supervisionar e articular as ações de prevenção do uso e
reinserção social de usuários e de dependentes de drogas. Com o
mapeamento sobre o consumo de entorpecentes, o ministério também
pretende combater o tráfico e o crime organizado.
“Essa pesquisa vai avaliar as drogas no
esgoto que não foram metabolizadas, ou seja, que não foram consumidas.
Isso vai então permitir identificar as localidades onde é feito o manejo
e o refino dessas drogas. São informações importantes para se formar um
cenário mais adequado de como acontece o narcotráfico no Brasil”,
pontua o secretário nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do
Ministério da Cidadania, Quirino Cordeiro Filho.
Na avaliação do coronel da reserva da
Polícia Militar do DF e especialista em segurança, Leonardo Sant'Anna,
esses indicadores podem ajudar na definição de estratégias de
policiamento e serem usados como guia para que as autoridades saibam em
quais regiões há necessidade de reforço.
“A gente tem também uma justificativa
para as polícias judiciárias, para as polícias civis, no momento em que
estiverem fazendo uma investigação, para apresentarem para a Justiça e
para o Ministério Público, dizendo que querem atuar de forma mais
intensa em certo ponto com base nos dados que foram trazidos”,
esclarece.
A pesquisa deve ter início no segundo
semestre deste ano e tem duração prevista de dois anos. Nesse período,
todos os boletins e relatórios gerados serão publicados pelos
pesquisadores.
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