Crédito virá de agências e bancos internacionais e poderá ser aplicado na expansão de programas sociais, como Bolsa Família e de manutenção de renda e emprego, durante pandemia do novo coronavírus
O
Brasil terá um aporte extra de US$ 4 bilhões para aplicar em ações
emergenciais contra o novo coronavírus. O empréstimo foi aprovado e virá
de bancos multilaterais e de agências em desenvolvimento internacionais
para o Programa Emergencial de Apoio à Renda de Populações Vulneráveis
Afetadas pela Covid-19 no País. O valor será aplicado parcialmente na
expansão de ações sociais como Bolsa Família, Renda Básica Emergencial e
Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda e
Seguro-Desemprego.
O Programa Emergencial foi elaborado
pelo Ministério da Economia e aprovado pela Comissão de Financiamentos
Externos (Cofiex), na última semana (29), e publicado por meio de resolução no
Diário Oficial da União. A execução das ações referentes a emprego e
renda ficarão a cargo da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.
Já a Secretaria Especial de Desenvolvimento Social, do Ministério da
Cidadania, ficará responsável pelas ações de Renda Básica Emergencial e
expansão do Bolsa Família.
Com o crédito, o governo espera
assegurar níveis mínimos de bem-estar aos mais vulneráveis diante da
crise econômica causada pela pandemia. “O Brasil é um país em eterno
desenvolvimento, por isso tem acesso a esse tipo de crédito. É muito
vantajoso e importante que o País busque esses recursos”, acredita o
presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
(Corecon-DF), Cesar Bergo.
O economista lembra que esse tipo de
crédito vai aumentar, sim, a dívida externa brasileira, que ultrapassou
os US$ 320 bi no final do ano passado – convertendo para a nossa moeda, o
valor equivale a R$ 1,7 trilhão. “Mas essa linha de crédito é de longo
prazo, em até 20 anos, e o Brasil vai ter condições bem vantajosas para
pagar”, tranquiliza Bergo.
O consultor legislativo do Senado
Federal e economista do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais
(Ibmec) Alexandre Rocha avisa que o endividamento externo do Brasil vem
ocorrendo desde 2014. Ele explica que o governo usa esse tipo de
investimento para pagar não só as obrigações financeiras, mas também as
primárias, como pagamento de salários, benefícios e investimentos.
“Nesse contexto de crise em que estamos
vivendo, esse endividamento vai precisar aumentar ainda mais. E até como
forma de diversificação de fonte de financiamento, o governo decidiu
recorrer aos organismos internacionais para cobrir uma parte dessas
despesas”, justifica Rocha.
Os valores do empréstimo virão da
Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento da
América Latina (CAF), Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW) e Novo Banco
de Desenvolvimento (NDB).
Segundo o governo, o financiamento
permitirá o reembolso ao Tesouro Nacional de gastos já realizados e
vinculados aos objetivos do Programa Emergencial. “Isso quer dizer que o
Tesouro Nacional poderá usar os créditos desembolsados e receber esses
recursos por meio dessas operações de crédito internacionais. É uma ação
muito vantajosa para que o Brasil possa, de fato, enfrentar essa
crise”, avalia Cesar Bergo.
Histórico
Empréstimos dessa natureza são comuns em países pobres. O economista do
Ibmec William Baghdassarian comenta que, no Brasil, isso era muito comum
até 2005, já que, naquela época, o país apresentava um contexto
diferente.
“As nossas reservas eram muito baixas. A
gente chegou a pedir linhas de emergência do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Hoje, a situação é muito diferente. Os recursos
externos são muito elevados, as reservas são quatro vezes o nível da
dívida bruta”, diz.
Na opinião dele, os US$ 4 bilhões não
impactarão tão fortemente os cofres públicos como se imagina, já que as
taxas para pagamento são menores que as praticadas no mercado. “Esse
recurso não vai fazer muita diferença do ponto de vista de exposição
externa para o País. Já o acúmulo de reservas existentes hoje fará
diferença quando sairmos da crise”, aposta o economista.
No passado, ter uma dívida externa
poderia ser um problema para o governo, porque havia pouco dinheiro para
pagá-la. “O Brasil tem reservas para pagar esse empréstimo”, garante.
O especialista alerta que a maior
preocupação não deveria ser o empréstimo, mas sim a crise econômica
gerada pela pandemia do novo coronavírus, que ficará mais forte a partir
de agosto. “As empresas que não quebraram agora sairão da crise com
capital de giro muito baixo e a economia em situação de contração. Por
mais que o governo esteja injetando recurso, será um período desafiador
para todos”, pontua.
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