No DF, a presença desta cepa do vírus saltou de 28% para 92% em um ano; em Goiás, o sorotipo 2 ainda é o mais predominante, mas o tipo 1 avança; especialistas explicam
O
Distrito Federal e o estado de Goiás voltaram a registrar circulação
expressiva do sorotipo 1 da dengue. No DF, este ano, 92,3% das amostras
analisadas registraram a presença do tipo, contra 28,9%, no ano passado.
Já em Goiás, os dados epidemiológicos apontam que a presença do
sorotipo 1 da doença passou de 2% para 30%, entre 2019 e 2020.
De acordo com o Ministério da Saúde, o sorotipo 2 da dengue ainda é o mais predominante no
país, presente em 79,2% das amostras. Desde 2019, esta cepa da dengue é
a responsável por surtos da doença no país, que atingiram com força os
estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, em um primeiro momento. No
entanto, a maior presença do sorotipo 1 pode se estender a outros
estados.
Segundo Claudio Maierovitch, médico sanitarista da Fiocruz (Fundação
Oswaldo Cruz), a ocorrência dengue este ano foi muito alta novamente,
embora pouco divulgada devido à pandemia da Covid-19. Ele avalia a
circulação dos sorotipos 1 e 2 no país.
“Em 2020, o Brasil vive mais uma epidemia de dengue. Essa foi a
continuidade do sorotipo 2 do vírus que já circulou em 2019 e também
volta à circulação do sorotipo 1. Muito provável que no ano que vem
esses dois sorotipos continuem a circular intensamente”, projeta.
Sorotipos
O vírus da dengue tem quatro subtipos: sorotipos 1, 2, 3 e 4. Isso
significa que uma pessoa pode ter a doença até quatro vezes durante a
vida, já que só fica imune de forma consistente ao tipo que a
contaminou, explica Augusto Penalva, médico e pesquisador do Instituto
Emílio Ribas. “As pessoas podem se contaminar pelos quatro sorotipos em
momentos diferentes. Existe uma imunidade específica para o sorotipo, ou
seja, o indivíduo faz uma imunidade sustentada pelo sorotipo que
contaminou, mas faz uma imunidade cruzada, transitória e curta”.
Isso significa que uma pessoa que foi contaminada pelo sorotipo 1 da
dengue, por exemplo, fica imune aos demais sorotipos por um curto
período, podendo ter contato com eles e adoecer novamente no futuro. As
quatro cepas costumam se alternar na circulação pelo país, com
predominância de uma ou outra a cada ano. Após o sorotipo 2 ter
infectado muitas pessoas e ainda estar bastante presente, a reinserção
do sorotipo 1 tende a ser danosa, sobretudo para as populações que ainda
não tiveram contato com ele.
“Mesmo que muitas pessoas tenham a doença, nós corremos o risco de a
cada ano ter novas epidemias. É bem provável que, no próximo ano, no
período de verão e início de outono, sejamos assolados novamente”,
avalia Maierovitch.
Penalva alerta que, embora para a maioria das pessoas a dengue tenha um
desfecho favorável, ou seja, a cura, ela pode evoluir para um quadro
mais grave e até levar à morte. “Há uma tendência de maior gravidade
quando a pessoa é infectada pela segunda vez. Algumas podem ter um
quadro mais grave, principalmente a dengue hemorrágica. Geralmente, pode
ter um desfecho fatal”, afirma.
Ministério da Saúde notifica 924.238 casos prováveis de dengue em 2020
Belo Horizonte vai usar novo método para combater doenças transmitidas pelo Aedes aegypti
Condições favoráveis
Com a proximidade do verão, estação que se caracteriza pelas chuvas e
temperaturas mais altas, o mosquito Aedes Aegypti, transmissor da
dengue, deve encontrar as condições ideais para se reproduzir, afirmam
os especialistas. “O aumento da temperatura, da umidade e das chuvas
sempre está relacionado a um maior risco”, diz Penalva. Ele complementa:
“quando começam as estações de chuva e calor, há um grande aumento da
disseminação da doença. Isso é um grande risco que temos e todos os
verões isso acontece.”
Maierovitch destaca que a situação só tende a melhorar com o início das
estações mais frias e secas. “Principalmente no caso da dengue, que é
aquela que tem maior número de casos todo ano, isso [grande
disseminação] acontece a partir dos meses de fevereiro e março e se
prolonga ao longo do primeiro semestre, só vindo a cair quando começa o
inverno, mais ou menos no mês de junho.”
Prevenção
Para as autoridades e especialistas no tema, a proatividade da
população é muito mais eficaz do que o próprio governo para impedir a
proliferação do mosquito da dengue e diminuir o número de casos e mortes
pela doença no país. Isso porque, cerca de 80% dos focos do mosquito
estão dentro das residências.
Cabe, então, a cada cidadão fazer a sua parte, eliminando os criadouros do Aedes, exemplifica Maierovitch.
“Às vezes, coisas muito simples, como garrafas que estão no quintal e
não estão cobertas, pneus que acumulam água, potinhos e embalagens de
plástico descartáveis, caixas d’água destampadas ou pratinhos que ficam
embaixo das plantas para que a água não molhe o chão, podem ser
convidativos para a proliferação do mosquito”, aponta.
Dengue no Brasil
De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, até 16 de setembro foram notificados 928.282 casos prováveis de dengue. Ao todo, 484 pessoas morreram por causa da doença. Os estados do Acre, Bahia, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e o DF apresentam taxas de incidência acima da média do país.
Fonte: https://brasil61.com/noticias/dengue-estados-voltam-a-registrar-circulacao-significativa-do-sorotipo-1-bras202128
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