terça-feira, 24 de setembro de 2019

A ERA DOS MENDIGOS EMOCIONAIS

 Uma reflexão extraída do Livro "O Homem mais inteligente da história", de Augusto Cury


Nosso intelecto é um veículo mental complexo e o dirigimos de forma
irresponsável. Por quê? Porque as escolas e as universidades não educam o Eu,
que representa a capacidade de escolha, o livre-arbítrio, a consciência crítica
para estar ao volante. Um olhar atravessado estraga o dia, uma crítica asfixia a
semana, uma traição pode comprometer uma vida.

Desculpe-me, mas quem possui apenas um manual de regras está apto a
consertar máquinas, não a formar mentes brilhantes.

A falta de proteção da emoção é a maior de todas as violências, e a
cometemos contra nossos próprios filhos!

Como podemos mudar isso?

Há muitas ferramentas à nossa disposição: podemos ser mais lentos para
reagir e mais rápidos para pensar; ser empáticos e nos importar com a dor dos
outros; ter consciência de que por trás de alguém que fere há uma pessoa ferida;
pensar como humanidade e não apenas como grupo social... E todas essas
ferramentas estão relacionadas com a gestão da própria mente.

Hoje uma criança de 7 anos possui mais
dados que imperadores romanos. Uma de 9 anos possui mais informações que
Sócrates ou Platão. Isso não é suportável. O excesso de informações não
utilizadas torna-se lixo intelectual. Esgota o cérebro. Em média, quem tinha mais
informações: Einstein ou os bons engenheiros e físicos da atualidade?

São os engenheiros e físicos da atualidade. Mas por que não
produzem ideias complexas como as que o jovem Einstein produziu aos 27 anos,
no tosco escritório de patentes em que trabalhava? O que forma um pensador não
é a quantidade de dados, mas sua organização.

Mas a era digital trouxe ganhos inegáveis!

Sim, inclusive um aumento cognitivo e uma melhora do raciocínio lógico e
da produtividade. Mas também trouxe prejuízos gigantescos. Não podemos
fechar os olhos para isso. Milhões de jovens são vítimas de intoxicação digital. – Tire-lhes os celulares e muitos terão sintomas de abstinência como as geradas pela dependência de drogas! Ansiedade, insatisfação crônica, impaciência, baixa tolerância a frustrações, um tédio atroz
quando sentem que não têm nada para fazer.

Nunca nas sociedades democráticas houve tantos
escravos no único lugar em que é inadmissível ser um prisioneiro: na própria
mente.

A tecnologia levou a ganhos importantíssimos. No passado uma amigdalite
matava. Mas precisamos ver o outro lado da moeda social. Vivemos em média
80 anos, mas a mente humana está tão estressada pelo excesso de informações
que hoje em dia 80 anos passam como se fossem 20 no passado.

Não parece que dormimos e acordamos com a idade que temos
hoje, senhoras e senhores?

Algumas pesquisas indicam que esse ritmo
frenético nos torna mais individualistas e insatisfeitos. Estamos na era da indústria
do lazer, mas nunca tivemos uma geração tão triste. Hoje
estamos na era dos miseráveis emocionais.

A FAO, órgão da ONU responsável pela segurança alimentar, como os
senhores devem saber, detectou que há 800 milhões de pessoas passando fome
no mundo. Um problema intolerável. Mas as estatísticas não dizem
que há bilhões de mendigos emocionais, alguns morando em belos apartamentos
e em casas confortáveis.

A principal característica dos mendigos emocionais é fazer pouco do muito.
Por exemplo, os pais têm pavor de que os filhos se tornem dependentes de
drogas, mas, sem perceber, viciam o cérebro deles com excesso de estímulos.

O excesso de presentes pode prejudicar nossos filhos?
Pode ser uma violência contra a saúde emocional deles. Pode
levá-los a precisar de cada vez mais estímulos para sentirem algumas migalhas
de prazer. Não são apenas as drogas que causam dependência.

O risco de pais abastados gerarem desnutrição emocional e ansiedade é
maior do que o de pais pobres...

Por favor, procurem dar aos seus filhos o que o dinheiro não pode comprar:
sua presença e sua história. Ensinem-lhes a contemplar o belo. Esse é o presente
dos presentes!

Contemplar o belo é o mesmo que admirar o belo?

Não! Até um psicopata como Adolf Hitler admirava o belo. Ele acariciava
sua cadela Blondi com uma das mãos e com a outra telefonava aos seus
subordinados ordenando guerras irracionais. Era vegetariano, não queria que os
animais sangrassem, mas não se importava que crianças e mulheres sangrassem
nos campos de concentração. Admirar o belo é uma experiência fugaz.
Contemplar o belo é se entregar atenta e detalhadamente.

Os grandes pensadores da história porventura contemplavam o belo?

Raramente. Einstein era depressivo; Kafka, pessimista; Van Gogh,
hipersensível; Nietzsche, mórbido. O sucesso financeiro, político, intelectual, se
não for trabalhado, gera insucesso emocional, leva a uma psicoadaptação ao
próprio sucesso, fazendo com que as pessoas precisem de “muito” para sentir
“pouco”. Celebridades, à medida que ascendem na carreira, asfixiam o prazer
de viver...

Muitos milionários, conforme enriquecem mais e
mais, tornam-se sem perceber miseráveis morando em palácios.

A emoção é democrática, senhoras e senhores, ela se alimenta
especialmente das coisas simples e anônimas da vida.




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