segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Carne, dólar em alta e FGTS: as causas da inflação que bateu recorde desde 2016

Apesar do IPCA fechar 2019 acima do previsto, especialista do Ibmec/SP aponta que tendência é estabilização do preço este ano, principalmente dos alimentos

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

A liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a gripe suína na China, com reflexo no preço da carne no Brasil, em 2019, elevaram a inflação. Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou dezembro em 4,31%, acima das expectativas previstas pelo mercado. Trata-se da maior inflação anual desde 2016, quando o índice ficou em 6,29%. A boa notícia é que como não haverá mais grande volume de dinheiro em circulação, como na época de fim de ano, e a tendência da China se recuperar na produção de carne, o impacto na inflação deve diminuir em 2020.
Segundo o professor de Finanças do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (Ibmec/SP) George Sales, o aumento foi pressionado, principalmente, pelo mês de dezembro, quando as pessoas recebem o FGTS e injetam mais dinheiro no comércio, com compras de Natal e Ano Novo. Além disso, ainda segundo o especialista, a crise de produção na China obrigou o país a importar carne do Brasil. “Isso não vai acontecer de novo para os próximos meses porque a China, que fez a importação em excesso do Brasil, teve problema e teve que importar. Como é [um país] muito populoso, causou esse efeito no Brasil, mas isso não vai acontecer mais. As matrizes vão se recompor e vão voltar a produzir carne. E também não terá mais dinheiro em excesso em circulação, como teve com o FGTS. Então, a gente tende a imaginar que os preços se estabilizem”, aponta Sales.
Monitoramento feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aponta recuo no preço da carne bovina desde dezembro. Nos principais mercados, a queda foi de cerca de 9%. Em Mato Grosso, a arroba do boi passou de R$ 216 para R$ 197 na mesma semana. Na Bahia, caiu de R$ 225 para R$ 207 e, em Mato Grosso do Sul, a arroba, antes cotada a R$ 220, passou a custar R$ 200. Para George Sales, a carne não pode ser apontada como a única vilã do aumento do IPCA. “O item alimentação, de forma geral, teve um aumento considerável, mas também teve o disparo do dólar e isso, consequentemente, afeta produtos brasileiros porque competem nas exportações. A carne foi a vilã que mais chamou atenção, mas não foi a única”, completa.
Cesta de produtos
O IPCA é um índice que mede a variação de preços de mercado para o consumidor final no segmento de transporte, alimentação e itens de casa, por exemplo. Engloba quem consome de um a 40 salários mínimos e é medido em 11 regiões metropolitanas no Brasil, o que atinge cerca de 70% da população. Baseado no que aconteceu nesses segmentos, o governo utiliza o IPCA como registro de meta de inflação e decide se aumenta ou diminui a taxa básica de juros por meio do Banco Central.
Dólar
Em novembro do ano passado, o dólar fechou em alta e atingiu o maior valor nominal da história sobre o real. A moeda norte-americana subiu 0,5% e fechou o dia a R$ 4,21. Já o dólar turismo terminou o dia vendido perto de R$ 4,40, sem considerar os impostos. No ano todo, o avanço registrado até novembro foi de 8,74%.
Carne
A peste suína chegou à China em 2018. No ano passado, o país chegou a ficar com os estoques de carnes congeladas na reserva. Quatro cidades ou províncias chinesas - que abastecem cerca de 130 milhões de pessoas - teriam diminuído seus estoques de carne congelada para colocar mais produtos no mercado. O aumento da demanda pelo alimento nacional elevou os preços nos açougues do Brasil. 
FGTS
O FGTS é uma poupança feita pela empresa em nome do trabalhador que funciona como uma garantia para protegê-lo em caso de demissão sem justa causa. O depósito é feito todo mês pela empresa e equivale a 8% do salário. A conta do FGTS rende juros e correção monetária no final do período de um ano. O governo mudou as regras de saque em 2019 e permitiu que os trabalhadores que tinham contas ativas e inativas pudessem sacar até R$ 500 no fim de ano.

Camila Costa

Jornalista formada há 10 anos, foi repórter de política no Jornal Tribuna do Brasil, do Jornal Alô Brasília e do Jornal de Brasília. Por cinco anos esteve no Correio Braziliense, como repórter da editoria de Cidades. Foi repórter e coordenadora de redação na Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), vinculada à Presidência da República. Recebeu, por duas vezes, o Prêmio PaulOOctavio de Jornalismo e, em 2014, o Prêmio Imprensa Embratel/Claro 15° Edição. Hoje, Camila é repórter da redação da Agência do Rádio.

 

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