Apesar do IPCA fechar 2019 acima do previsto, especialista do Ibmec/SP aponta que tendência é estabilização do preço este ano, principalmente dos alimentos
A
liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a gripe
suína na China, com reflexo no preço da carne no Brasil, em 2019,
elevaram a inflação. Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou dezembro em 4,31%,
acima das expectativas previstas pelo mercado. Trata-se da maior
inflação anual desde 2016, quando o índice ficou em 6,29%. A boa notícia
é que como não haverá mais grande volume de dinheiro em circulação,
como na época de fim de ano, e a tendência da China se recuperar na
produção de carne, o impacto na inflação deve diminuir em 2020.
Segundo o professor de Finanças do Instituto Brasileiro de Mercados
de Capitais (Ibmec/SP) George Sales, o aumento foi pressionado,
principalmente, pelo mês de dezembro, quando as pessoas recebem o FGTS e
injetam mais dinheiro no comércio, com compras de Natal e Ano Novo.
Além disso, ainda segundo o especialista, a crise de produção na China
obrigou o país a importar carne do Brasil. “Isso não vai acontecer de
novo para os próximos meses porque a China, que fez a importação em
excesso do Brasil, teve problema e teve que importar. Como é [um país]
muito populoso, causou esse efeito no Brasil, mas isso não vai acontecer
mais. As matrizes vão se recompor e vão voltar a produzir carne. E
também não terá mais dinheiro em excesso em circulação, como teve com o
FGTS. Então, a gente tende a imaginar que os preços se estabilizem”,
aponta Sales.
Monitoramento feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) aponta recuo no preço da carne bovina desde
dezembro. Nos principais mercados, a queda foi de cerca de 9%. Em Mato
Grosso, a arroba do boi passou de R$ 216 para R$ 197 na mesma semana. Na
Bahia, caiu de R$ 225 para R$ 207 e, em Mato Grosso do Sul, a arroba,
antes cotada a R$ 220, passou a custar R$ 200. Para George Sales, a
carne não pode ser apontada como a única vilã do aumento do IPCA. “O
item alimentação, de forma geral, teve um aumento considerável, mas
também teve o disparo do dólar e isso, consequentemente, afeta produtos
brasileiros porque competem nas exportações. A carne foi a vilã que mais
chamou atenção, mas não foi a única”, completa.
Cesta de produtos
O IPCA é um índice que mede a variação de preços de mercado para o
consumidor final no segmento de transporte, alimentação e itens de casa,
por exemplo. Engloba quem consome de um a 40 salários mínimos e é
medido em 11 regiões metropolitanas no Brasil, o que atinge cerca de 70%
da população. Baseado no que aconteceu nesses segmentos, o governo
utiliza o IPCA como registro de meta de inflação e decide se aumenta ou
diminui a taxa básica de juros por meio do Banco Central.
Dólar
Em novembro do ano passado, o dólar fechou em alta e atingiu o maior
valor nominal da história sobre o real. A moeda norte-americana subiu
0,5% e fechou o dia a R$ 4,21. Já o dólar turismo terminou o dia vendido
perto de R$ 4,40, sem considerar os impostos. No ano todo, o avanço
registrado até novembro foi de 8,74%.
Carne
A peste suína chegou à China em 2018. No ano passado, o país chegou a
ficar com os estoques de carnes congeladas na reserva. Quatro cidades
ou províncias chinesas - que abastecem cerca de 130 milhões de pessoas -
teriam diminuído seus estoques de carne congelada para colocar mais
produtos no mercado. O aumento da demanda pelo alimento nacional elevou
os preços nos açougues do Brasil.
FGTS
O FGTS é uma poupança feita pela empresa em nome do trabalhador que
funciona como uma garantia para protegê-lo em caso de demissão sem justa
causa. O depósito é feito todo mês pela empresa e equivale a 8% do
salário. A conta do FGTS rende juros e correção monetária no final do
período de um ano. O governo mudou as regras de saque em 2019 e permitiu
que os trabalhadores que tinham contas ativas e inativas pudessem sacar
até R$ 500 no fim de ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário