Segundo o relator, senador Marcos Rogério, texto final representa uma “inovação” para o setor e beneficia o consumidor final
A
Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado Federal concluiu, nesta
semana, a votação da proposta (PLS 232/2016) que abre caminho para um
mercado de energia livre, com a possibilidade de portabilidade da conta
de luz entre as distribuidoras, a exemplo do que já é visto hoje no
segmento de telefonia.
Para falar mais sobre as mudanças do novo marco legal do setor
elétrico, que vão além da modernização do modelo atual de compra do
serviço de energia elétrica, recebemos o relator do texto, senador
Marcos Rogério (DEM-RO).
Em linhas gerais, do que trata e quais são os pontos principais da proposta?
“O PLS 232 é o novo marco regulatório do setor elétrico, uma proposta
que iniciou com a ideia de criar a chamada portabilidade do setor
elétrico, garantir a migração para o mercado livre do consumidor de modo
geral. O projeto garante a migração como o direito de todos os
consumidores. Começou com essa ideia, mas avançou, evoluiu e, hoje,
representa uma inovação em todo o marco legal, praticamente. Ou seja, é
um projeto que não inclui apenas uma portabilidade, não fala apenas da
possibilidade de migração para quem está no mercado cativo para o
mercado livre. Primeiro, trata da portabilidade, do consumidor escolher
de quem comprar energia, dando a possibilidade de escolher onde pagar
menos ou escolher uma fonte específica. Quer comprar, por exemplo,
energia de uma fonte eólica? Ele poderá comprar. Maior concorrência,
maior competitividade, menor preço”.
Uma das mudanças previstas no seu substitutivo trata do
modelo entre lastro e energia. O que é isso e como vai passar a
funcionar daqui para frente?
“Atualmente, lastro e energia são negociados como se fossem um só, o
que não corresponde à realidade. De forma simples e resumida, o lastro
representa a segurança a que um empreendimento agrega ao sistema, a
chamada confiabilidade do sistema, enquanto a energia é o bem que chega
na casa das pessoas. Esse arranjo de vender lastro e energia
conjuntamente, como se fosse um produto só, acabou criando distorções.
Isso gera risco de um produto contaminar a contratação do outro. E o que
fizemos foi aprovar um projeto que separa o lastro da energia. Serão
tratados de forma distinta. Você pode escolher a fonte de quem comprar,
mas tem que participar na formação de lastro, no sentido geral. Hoje,
quem mais paga por lastro é quem está no mercado cativo. A confiança do
sistema é basicamente custeada por quem está no mercado cativo
(consumidores de menor porte). E quem está no mercado livre (grandes
consumidores) E quem está no mercado livre acaba não tendo a incidência
desse fator na sua conta de luz. E isso o projeto acaba corrigindo. Ou
seja, todos vão pagar por lastro, todos vão pagar por energia. Isso faz
com que o consumidor simples, o consumidor que consome menos, fique com a
conta mais barata”.
O seu texto cria o chamado encargo de universalização. Isso é
mais um imposto que o consumidor terá que pagar, como isso vai
funcionar?
“Esse é outro aspecto importante. [Esse encargo] é o compartilhamento
dos custos das distribuidoras com a migração dos consumidores para o
mercado livre. E por que estamos fazendo isso? Ao abrir o mercado, abrir
a possibilidade de quem pode comprar, eles podem sair do mercado cativo
e ir para o mercado livre. Se essa busca pelo mercado livre for
intensa, vamos ter uma situação crítica para quem ficar no mercado
cativo. A distribuidora compra um volume de energia, produto, o número
de consumidores diminui. Consequentemente, o preço para quem ficar será
mais caro. Esse será um mecanismo de mitigação. Vamos diminuir esse
passivo, criando mecanismo que possa diminuir o tamanho dessa diferença.
Não é um tributo, mas um pagamento universal, todos vão pagar. Uma cota
para que, havendo consumidores indo para mercado livre, não haja preço
desproporcional para quem ficar no cativo”.
Em muitas cidades, as empresas de energia são sucateadas,
servem de cabides de emprego e o serviço de energia não é de qualidade e
caro. Isso pode mudar com o novo marco legal?
Com a aprovação, a tendência é que tenha mudanças também na qualidade
dos serviços prestados pelas distribuidoras. Dessa compensação para
quem ficar no mercado cativo, vai ter mediante comprovação do esforço da
empresa em reduzir esse impacto. Se a empresa não cumpre seu papel, não
cumpre o contrato que tem e não entrega o que tem que entregar,
naturalmente essa medida de compensação, esse subsídio de compensação,
não vai atendê-las. Seja ela privada ou do setor público.
Houve a preocupação de ouvir todas as partes envolvidas nessas mudanças e chegar a um texto uniforme?
“O projeto é todo amarrado. Não há espaço para o famoso jeitinho
brasileiro. Seja por parte de empresas estatais ou por parte de empresa
privadas. Todos deverão cumprir seu papel, entregar o serviço que se
propõe entregar. No caso das distribuidoras, deve ser exigido delas a
observância do chamado máximo de esforço. Se ela não conseguir
demonstrar esse máximo esforço para mitigar a diferença, ela não vai
fazer jus ao benefício”.
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