Presidente fez pronunciamento para rebater falas de Sérgio Moro, que se demitiu nesta sexta-feira. Procurador-geral da República pede que Supremo investigue as acusações
Em
uma coletiva de imprensa cercado por quase toda sua equipe ministerial,
o presidente Jair Bolsonaro, rebateu as acusações feitas por Sérgio
Moro ao anunciar sua demissão. Ele disse que o ex-ministro tentou
negociar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) em troca do
afastamento de Maurício Valeixo, então comandante da Polícia Federal.
Vale lembrar que é o presidente da República que indica os ministros do
STF e que uma vaga deve ser aberta neste ano com a aposentadoria do
ministro Celso de Mello e no ano que vem com a saída de Ricardo
Lewandowski. “Mais de uma vez, o senhor Sérgio Moro disse para mim:
'Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me
indicar para o Supremo Tribunal Federal'. Me desculpe, mas, não é por
aí”, disse o presidente.
O ex-ministro Sérgio Moro pediu demissão
do cargo depois de 16 meses à frente do Ministério da Justiça e da
Segurança Pública. De acordo com o ex-juiz federal, conhecido pela
atuação na Operação Lava-jato, a decisão foi tomada depois do presidente
da República anunciar que iria exonerar o antigo diretor-geral da
Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo.
A acusação de Bolsonaro, diverge da
versão alegada por Sérgio Moro. Após a coletiva do presidente, o
ex-ministro foi às redes sociais fazer sua tréplica. Disse que “A
permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi
utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF”.
Intervenção na PF
Durante o anúncio de que estava deixando o cargo, Moro reclamou que
Bolsonaro não respeitou a promessa de deixar para ele as nomeações para
cargos ligados ao ministério. Mas o centro da discordância entre
Bolsonaro e Moro foi a suposta intervenção do presidente em
investigações de interesse dele. O ex-ministro indicou que a demissão de
Valeixo seria uma forma de Bolsonaro ter acesso a diligências em
andamento. “Não é uma questão de quem colocar, mas de porque trocar, e
de permitir a interferência política na Polícia Federal. O presidente me
disse mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do
contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que pudesse colher
informações e relatórios de inteligência”, justificou Moro. “Imagine se
durante a própria Lava-jato, os ministros, a então presidente Dilma ou o
ex-presidente Lula, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba
para colher informações sobre as investigações em andamento”,
exemplifica.
Na coletiva em que fez sua defesa,
Bolsonaro negou várias vezes as intervenções, mas também disse que
estava insatisfeito com a pouca atenção dada a temas pelas quais prezava
ou que diziam respeito a ele e sua família. Reclamou, por exemplo, que a
investigação da ex-vereadora Marielle Franco tenha recebido mais
atenção do que a tentativa de homicídio que o agora presidente sofreu
durante a campanha.
Bolsonaro também falou que queria ter
maior contato com a PF, assim como tem com os órgãos de inteligência,
citando a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). E disse que chegou a
pedir “quase como um favor” que a PF interrogasse Ronnie Lessa,
policial reformado acusado de matar Marielle Franco. Afirmou que teve
acesso a uma cópia do depoimento, que é sigiloso. A questão em xeque era
um suposto relacionamento de Jair Renan, um dos filhos do presidente,
com a filha de Ronnie Lessa.
Aras quer investigação das falas de Moro
Depois da demissão e das acusações de
Sérgio Moro, o procurador-geral da República, Augusto Aras decidiu pedir
ao STF uma investigação das alegações feitas pelo agora ex-ministro. O
inquérito deve mirar tanto em Moro como em Bolsonaro, para avaliar se
eles cometeram crimes como falsidade ideológica, coação no curso do
processo, obstrução de justiça e denunciação caluniosa, por exemplo. Uma
das providências solicitadas por Aras é que Sérgio Moro seja ouvido
pelo Supremo em uma oitiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário