PLP 34/20 prevê que companhias com patrimônio líquido de R$ 1 bi ou mais repassem recursos ao governo federal; texto pode ser votado hoje na Câmara
Em
discussão na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei Complementar
34/2020 propõe a destinação de até 10% do lucro das empresas com
patrimônio superior a R$ 1 bilhão a empréstimos compulsórios. Na
prática, isso quer dizer que as empresas serão obrigadas a emprestar
dinheiro ao governo federal, com devolução do valor nos anos seguintes.
Segundo o texto, previsto para ser votado nesta quarta-feira (22), o
objetivo é atender as despesas urgentes causadas pela situação de
calamidade pública em função da pandemia de covid-19.
Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos
de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional
(Abipla), Paulo Engler, a medida é prejudicial ao setor porque os
recursos que serão repassados ao governo geram ainda mais desequilíbrio
econômico no caixa das empresas.
“Na nossa visão, a proposta é um aumento de carga tributária que não
está previsto nos orçamentos das empresas. Uma vez implementada, trará
um enorme desestímulo à produção. O investimento em novas plantas ou no
aumento de produção que vinha sendo programado nos últimos tempos
certamente será suspenso”, avalia.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, avalia que a aprovação dessa
proposta “nociva” pode agravar ainda mais o cenário de crise. Isso
porque, segundo Moraes, as empresas terão que arcar com uma despesa que
não estava prevista, em um momento em que não há fontes de receita.
“Deputados e deputadas federais, peço que rejeitem o PLP 34, que cria
o empréstimo compulsório para as empresas. Esse projeto é contra a
manutenção de empregos”, apela.
Por meio de nota, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil
(Amcham Brasil), entidade que reúne mais de cinco mil empresas
associadas, também endossa que a proposta causa “muita preocupação” por
ter “efeito perverso de agravar a crise em curso, aumentar o número de
demissões e retardar o ritmo de recuperação futura”.
Entenda
Entre outros pontos, a proposta estabelece que empresas com
patrimônio líquido igual ou superior a R$ 1 bilhão na data de publicação
da norma estarão sujeitas ao empréstimo compulsório. O governo federal
pode cobrar até 10% do lucro líquido informado nos últimos 12 meses.
Pelo texto, o Ministério da Economia será o responsável por definir o
percentual cobrado de cada setor econômico.
Em contrapartida, o PLP 34/2020 prevê que os valores sejam
restituídos às empresas em até quatro anos, contados a partir do fim da
situação de calamidade pública em função do coronavírus.
Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, a
medida estrangula ainda mais o fluxo de caixa das empresas, que podem
ser obrigadas a demitir funcionários e suspender investimentos.
“Essa taxação, mesmo acontecendo em um momento de crise, pode
representar um incentivo errado às empresas. Ele pode desestimular que
as empresas invistam e, com isso, pode haver uma redução na produção.
Isso pode gerar problemas mais adiantes em termos de emprego e
abastecimento”, aponta.
Além de provocar novos problemas econômicos, entidades ligadas à
indústria lembram que os últimos empréstimos compulsórios – criados em
1962 e 1986 – jamais foram devolvidos. Somado a esse fator de
preocupação, o economista Mauro Rochlin considera que a norma coloca em
risco contratos já sacramentados pelas empresas, fator que pode
comprometer ainda mais as dificuldades já enfrentadas para manter o
capital de giro.
“A medida representa uma insegurança jurídica muito grande. Aliás,
acho que é esse o ponto principal. Ela coloca sobre as empresas um risco
de um imposto não previsto e um encarecimento de todos os projetos de
investimento, além de uma mudança de contratos”, pondera.
Para entrar em vigor, o PLP 34 precisa ser aprovado pelos Plenários
da Câmara e do Senado e ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.
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