Especialistas ouvidos pela reportagem temem que PLP 34/20, em discussão na Câmara, pode ampliar dificuldades já enfrentadas e criar abismo econômico
O
Projeto de Lei Complementar 34/2020 é alvo de críticas de economistas.
Se aprovada, a proposta vai destinar 10% do lucro das empresas com
patrimônio superior a R$ 1 bilhão para empréstimos compulsórios. Os
recursos seriam usados pelo governo em ações de combate ao coronavírus.
Na avaliação do doutor em economia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mauro Rochlin, a medida
pode reduzir a capacidade das empresas de resistir à crise e gerar
demissões.
“Estamos falando de um momento de crise,
onde tanto a oferta como a demanda se encontram totalmente deprimidos.
Por outro lado, esse tipo de medida acaba por desestimular as empresas e
joga contra o emprego e a oferta de recursos para a manutenção de
empregos. A medida é totalmente contraproducente”, enfatiza.
Para ele, o empréstimo obrigatório pode
ainda prejudicar novos investimentos e até afetar contratos em vigor,
mais um fator que vai impactar negativamente o fluxo de caixa das
empresas. “Se o governo se dispor a adotar esse tipo de medida,
certamente amanhã estará disposto a adotar medidas muito mais
draconianas”, alerta Rochlin.
A proposta, segundo o mestre em Economia
e sócio da consultoria G2W investimentos, Ciro Almeida, pode desaquecer
ainda mais a produtividade e o mercado industrial. Se em março uma
pesquisa publicada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) já
apontava que 70% das empresas sofriam com a queda no faturamento e 30%
das indústrias consultadas tiveram que paralisar a produção, Almeida
projeta que a aprovação do PLP 34 pode piorar esse cenário nos próximos
meses.
“As empresas já estão sofrendo uma
retração muito forte. Elas tiveram uma redução no faturamento de 70 a
90%. Em um cenário onde seja aprovado o empréstimo compulsório sem
entender a nova realidade das empresas, que terão que se adaptar aos
novos hábitos de consumo, isso certamente vai gerar um choque de curto
prazo das empresas e a primeira atitude delas será diminuir sua carga
trabalhista”, aponta o especialista.
Cobrança
Entre outros pontos, a proposta
estabelece que empresas com patrimônio líquido igual ou superior a R$ 1
bilhão na data de publicação da norma estarão sujeitas ao empréstimo
compulsório. O governo federal pode cobrar até 10% do lucro líquido
informado nos últimos 12 meses. Pelo texto, de autoria do deputado
Wellington Roberto (PL-PB), o Ministério da Economia será o responsável
por definir o percentual cobrado de cada setor econômico.
Em contrapartida, o PLP 34/2020 prevê
que os valores sejam restituídos às empresas em até quatro anos,
contados a partir do fim da situação de calamidade pública em função do
coronavírus. Para passar a valer, o texto precisa ser aprovado pelos
Plenários da Câmara e do Senado e ser sancionado pelo presidente Jair
Bolsonaro.
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