Agência Entrevista conversa com o pesquisador da Embrapa Mário Alves Seixas, que traça um panorama do mercado de carne suína no Brasil e em países asiáticos, como a China
A
pandemia do novo coronavírus tem trazido incerteza ao mercado
brasileiro. Porém, alguns setores dentro da agropecuária, como o da
carne bovina e suína, estão experimentando um cenário diferente,
especialmente no campo das exportações. Em 2019, segundo a Embrapa, o
Brasil teve um incremento de aproximadamente 13% nas vendas e na receita
com as exportações de carnes para a China.
Mesmo com a covid-19 e com o
alastramento da Peste Suína Africana, que vem sendo observada no mundo
todo desde o início do século passado, o Brasil vem se consolidando como
o maior exportador de carnes bovina e de aves, e ampliando sua
participação também no mercado internacional de carne suína. No ano
passado, foram quase 250 mil toneladas de carne suína exportadas para a
China. Este ano, segundo a Embrapa, a estimativa é de 300 mil toneladas a
serem enviadas para o mercado chinês.
Em entrevista exclusiva, o pesquisador
da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa, Mário
Alves Seixas, responsável pelo estudo “Cenários pós-covid-19 para os
setores de alimentos e agronegócios da China” conta um pouco mais sobre a
atual crise na saúde e como a Peste Suína Africana pode alterar o
mercado de exportações para o Brasil.
É possível avaliar o mercado
suíno lá fora com o alastramento da Peste Suína Africana, que ronda o
planeta desde o início do século passado?
Mário Alves Seixas: O que tenho a dizer é que a expectativa de
controle da Peste Suína Africana será a força motriz do agronegócio
global ao longo de 2020. Já é conhecido que o impacto da peste cresceu
na África e atualmente está presente não somente na China, mas também no
Vietnã, Filipinas, Laos, Camboja e outros países da Ásia.
Nós sabemos que essa Peste Suína
Africana fez com que a produção de carne suína na China, por exemplo,
tenha sofrido uma retração de mais de 20% a 25% em 2019 adicionado aos
outros quase 25% neste ano de 2020. Ou seja, nós estamos falando sobre o
impacto de 50% em um plantel de 350 milhões de suínos, que vem a ser
algo brutal no mercado nacional e internacional de carne suína.
Sabemos também que, talvez num prazo
mais longo, o surto da PSA provavelmente remodelará o setor de carne
suína. Isso porque muitos dos pequenos produtores não voltarão a essa
exploração à luz de uma série de outros desafios subjacentes na
indústria, incluindo, evidentemente, todas as exigências ambientais mais
elevadas.
Como isso pode favorecer (ou desfavorecer) o mercado brasileiro e de importações?
Mário Alves Seixas: Em primeiro lugar, na China, é estimado que a endemia da PSA continue se espalhando pelo país em 2020, embora o ritmo tenha desacelerado. E estima-se que as importações em 2020 aumentem potencialmente de 30% a 40% em relação a 2019, atingindo algo ao redor de 4,25 milhões de toneladas. Esta é uma quantidade violenta ao compararmos que, no caso das exportações brasileiras de carne suína para a China no ano passado, embora elas tenham aumentado 59% em volume, nós estamos falando em um montante inferior a 300 mil toneladas.
Mário Alves Seixas: Em primeiro lugar, na China, é estimado que a endemia da PSA continue se espalhando pelo país em 2020, embora o ritmo tenha desacelerado. E estima-se que as importações em 2020 aumentem potencialmente de 30% a 40% em relação a 2019, atingindo algo ao redor de 4,25 milhões de toneladas. Esta é uma quantidade violenta ao compararmos que, no caso das exportações brasileiras de carne suína para a China no ano passado, embora elas tenham aumentado 59% em volume, nós estamos falando em um montante inferior a 300 mil toneladas.
Isso significa que o futuro para as
exportações brasileiras de suínos para a Ásia é muito grande. Nós
estamos falando em uma diferença violentíssima e nós temos que levar
tudo isso em consideração.
E o mercado em meio à combinação da PSA com a pandemia do novo coronavírus, como fica?
Mário Alves Seixas: Essa combinação está prejudicando
violentamente a suinocultura, desacelerando a produção ou adiando a
expansão de criatórios, principalmente na China. Estima-se que o
reabastecimento de suínos (reprodutores femininos), que estão começando a
ter redirecionada a sua importação para a Europa, demore de dois a
quatro meses em razão do bloqueio e da ausência de mão de obra. Isso
significa que a lacuna de proteína animal global aumentará provavelmente
em 2020.
O que nós sabemos em relação a China é
que ela é completamente dependente do mercado externo. E estima-se que
as importações sejam retomadas a partir de abril, maio com importações
crescentes previstas para o segundo semestre de 2020. As importações de
carne suína da China, em março de 2020, saltaram significativamente 41%
para 384 mil toneladas – somente em março de 2020.
No entanto, parte do volume que nós
sabemos dessa exportação deveu-se também ao atraso no desembaraço
aduaneiro, em fevereiro, devido ao lockdown que esteve ocorrendo na
China e que está gradualmente sendo liberado. Entretanto, nós temos que
levar em consideração que, ao olhar o primeiro trimestre como um todo,
aquele aumento de 384 mil toneladas é significativo, representando um
incremento de 186% em relação ao ano anterior – e 38% em relação ao
trimestre anterior que cobre uma parte de 2019.
Quais as perspectivas para 2020/2021?
Mário Alves Seixas: Este é um tema absolutamente importante
para nós conhecermos em detalhes o que está ocorrendo realmente no
mercado internacional. Em 2019, como sabemos, o agronegócio brasileiro
foi fortemente afetado pelas repercussões da famosa disputa comercial
entre Estados Unidos e China e pelo surto da peste suína africana na
China. Os impactos que foram positivos e negativos desses eventos nos
preços e nos fluxos comerciais são realmente visíveis no desempenho das
exportações brasileiras ocorridas em 2019.
Em 2020, nós sabemos que persistirá a
influência da PSA assim como da disputa comercial Estados Unidos/China. A
expectativa é muito positiva para o setor de proteína animal
brasileiro, com previsões de preços altos e forte demanda de
exportação.
Para 2020, nós estimamos inclusive que o
Brasil continuará sendo o maior exportador mundial de carnes e de aves e
o segundo maior exportador de carne bovina. Estima-se também um aumento
da produção de carne suína bem considerável, partindo do princípio de
que o mercado internacional de carne suína brasileiro ainda é muito
restrito.
O que podemos dizer é que o alastramento
da peste suína africana na China e em outros países faz com que nós
tenhamos uma possibilidade muito grande de aumentar a nossa participação
na China, principalmente, na Ásia com toda certeza. No caso da China,
estima-se que a produção local de carne, como dissemos, tenha retraído
quase 50% nesses dois anos. O que mais pesou sobre isso foi o abate de
fêmeas, ocorrido em 2019, resultando numa dependência contínua de
exportações, inclusive de reprodutoras, para que a China possa fazer com
que seu mercado de proteína animal seja, digamos assim, preenchido.
Nós sabemos também que a China – e tenho
certeza de que o país tendo aumentado suas exportações de carne suína
em 59% em 2019 – está tendo uma participação primordial no aumento das
exportações brasileiras neste primeiro trimestre de 2020. O que podemos
dizer é que as oportunidades para o setor de suínos no Brasil são muito
grandes.
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