Técnica detecta fragmentos do vírus expelido por infectados. Pesquisadores de Brasília querem aplicar no DF o método que já é aplicado em Minas Gerais e no Rio de Janeiro
Com
o avançar da pandemia, governos procuram colher o máximo de informações
que ajudem a combater o novo coronavírus. Atualmente os dados vêm
principalmente do que é registrado em hospitais - o número de doentes e
de mortes, por exemplo. Mas cientistas já trabalham na coleta de dados
de uma fonte um pouco mais inusitada: do esgoto.
Em Belo Horizonte e Contagem (MG)
pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já
trabalham coletando amostras de esgoto e analisando em laboratório. A
pesquisa é feita em cooperação com a Agência Nacional de Águas (ANA), o
Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e a Companhia de Saneamento
de Minas Gerais (COPASA). Os resultados preliminares mostram que das 26
amostras coletadas, oito indicaram a presença do novo coronavírus.
Agora, os cientistas vão continuar as coletas para avaliar a evolução
das amostras.
“De posse dessas informações, os
profissionais de saúde podem ir naquele local onde há maior carga viral
no esgoto, que indica que o um maior número de pessoas está infectada,
para adotar medidas cabíveis de prevenção, como a lavagem das mãos, o
uso de máscaras e o isolamento social”, explica Juliana Araújo
professora associada da UFMG, doutora em Engenharia Hidráulica e
Saneamento.
Já no estado do Rio de Janeiro, a
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a prefeitura de Niterói
finalizam uma pesquisa que coletou amostras do esgoto durante um mês.
Os resultados preliminares mostram que dos 12 pontos de coleta, cinco
continham material genético do novo coronavírus, detectando a presença
de pessoas infectadas nos bairros do Icaraí e Camboinhas.
Como funciona
Pesquisas mostram que, mesmo pessoas
assintomáticas, liberam o Sars-CoVi-2, nome científico do vírus causador
da Covid-19, pelas fezes. Por isso, fragmentos do vírus podem ser
encontrados no esgoto - e é isso que tem sido analisado por
pesquisadores. Com esses dados é possível notar um possível aumento nos
casos mesmo antes do número de infecções ser sentido pelos hospitais.
“Esse tipo de análise permite que você
construa curvas de aumento ou diminuição da presença do vírus. Você
consegue ter evidências no esgoto ainda em situações de início de
aumento da curva exponencial. Em épocas onde aparentemente a Covid-19
estiver controlada, se você mantém esse monitoramento, é possível prever
a possível ocorrência de novos surtos”, explica o professor do
Instituto de Química da UnB, Fernando Fabriz Sodré. Ele é especialista
em “epidemiologia do esgoto”, que é o estudo que obtêm dados sobre uma
determinada população através dos dejetos que chegam a estações de
tratamento.
Sodré explica que, em um cenário onde
não há testes disponíveis para que as autoridades detectem o vírus em
todas as pessoas que possam estar infectadas, o uso do esgoto para se
obter informações pode ser uma opção. Um estudo publicado por
pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, sugere que
esse monitoramento pode ajudar na aplicação de políticas públicas mais
efetivas e poupar bilhões de dólares governamentais. “Para regiões e
nações pobres, a epidemiologia do esgoto pode representar o único meio
viável de vigilância efetiva”, pondera o artigo científico (sugiro
linkar o artigo original, para dar mais credibilidade).
Em Brasília, a implantação do projeto de
pesquisa tem enfrentado dificuldades financeiras. Os pesquisadores da
UnB já estão em contato com a Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal (Caesb) e estabeleceram uma parceria para que as
amostras possam ser coletadas. “Nós da Universidade de Brasília temos
todos os equipamentos disponíveis. Nos faltam os reagentes. Estamos em
um momento em que a busca por reagentes é bastante grande, obviamente,
por conta da quantidade de testes clínicos que têm sido feitos”, relata o
professor. Os pesquisadores fizeram contato com Agência Nacional de
Águas, que apoiou o projeto em Minas Gerais, e projeto de pesquisa foi
inscrito em diversos editais de pesquisa em uma tentativa de juntar
fundos.
De acordo com a Caesb, ainda não há prazo para o início do projeto.
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