sábado, 16 de maio de 2020

Análise de esgoto pode indicar regiões mais afetadas pelo novo coronavírus antes mesmo dos casos chegarem aos hospitais

Técnica detecta fragmentos do vírus expelido por infectados. Pesquisadores de Brasília querem aplicar no DF o método que já é aplicado em Minas Gerais e no Rio de Janeiro

Amostras de esgoto são coletadas em Niterói. Foto: Prefeitura de Niterói

Com o avançar da pandemia, governos procuram colher o máximo de informações que ajudem a combater o novo coronavírus. Atualmente os dados vêm principalmente do que é registrado em hospitais - o número de doentes e de mortes, por exemplo. Mas cientistas já trabalham na coleta de dados de uma fonte um pouco mais inusitada: do esgoto.
Em Belo Horizonte e Contagem (MG) pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já trabalham coletando amostras de esgoto e analisando em laboratório. A pesquisa é feita em cooperação com a Agência Nacional de Águas (ANA), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). Os resultados preliminares mostram que das 26 amostras coletadas, oito indicaram a presença do novo coronavírus. Agora, os cientistas vão continuar as coletas para avaliar a evolução das amostras.
“De posse dessas informações, os profissionais de saúde podem ir naquele local onde há maior carga viral no esgoto, que indica que o um maior número de pessoas está infectada, para adotar medidas cabíveis de prevenção, como a lavagem das mãos, o uso de máscaras e o isolamento social”, explica Juliana Araújo professora associada da UFMG, doutora em Engenharia Hidráulica e Saneamento.
Já no estado do Rio de Janeiro, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a prefeitura de Niterói finalizam uma pesquisa que coletou amostras do esgoto durante um mês. Os resultados preliminares mostram que dos 12 pontos de coleta, cinco continham material genético do novo coronavírus, detectando a presença de pessoas infectadas nos bairros do Icaraí e Camboinhas.
Como funciona
Pesquisas mostram que, mesmo pessoas assintomáticas, liberam o Sars-CoVi-2, nome científico do vírus causador da Covid-19, pelas fezes. Por isso, fragmentos do vírus podem ser encontrados no esgoto - e é isso que tem sido analisado por pesquisadores. Com esses dados é possível notar um possível aumento nos casos mesmo antes do número de infecções ser sentido pelos hospitais.
“Esse tipo de análise permite que você construa curvas de aumento ou diminuição da presença do vírus. Você consegue ter evidências no esgoto ainda em situações de início de aumento da curva exponencial. Em épocas onde aparentemente a Covid-19 estiver controlada, se você mantém esse monitoramento, é possível prever a possível ocorrência de novos surtos”, explica o professor do Instituto de Química da UnB, Fernando Fabriz Sodré. Ele é especialista em “epidemiologia do esgoto”, que é o estudo que obtêm dados sobre uma determinada população através dos dejetos que chegam a estações de tratamento. 
Sodré explica que, em um cenário onde não há testes disponíveis para que as autoridades detectem o vírus em todas as pessoas que possam estar infectadas, o uso do esgoto para se obter informações pode ser uma opção. Um estudo publicado por pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, sugere que esse monitoramento pode ajudar na aplicação de políticas públicas mais efetivas e poupar bilhões de dólares governamentais. “Para regiões e nações pobres, a epidemiologia do esgoto pode representar o único meio viável de vigilância efetiva”, pondera o artigo científico (sugiro linkar o artigo original, para dar mais credibilidade).
Em Brasília, a implantação do projeto de pesquisa tem enfrentado dificuldades financeiras. Os pesquisadores da UnB já estão em contato com a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e estabeleceram uma parceria para que as amostras possam ser coletadas. “Nós da Universidade de Brasília temos todos os equipamentos disponíveis. Nos faltam os reagentes. Estamos em um momento em que a busca por reagentes é bastante grande, obviamente, por conta da quantidade de testes clínicos que têm sido feitos”, relata o professor. Os pesquisadores fizeram contato com Agência Nacional de Águas, que apoiou o projeto em Minas Gerais, e projeto de pesquisa foi inscrito em diversos editais de pesquisa em uma tentativa de juntar fundos.
De acordo com a Caesb, ainda não há prazo para o início do projeto.


Daniel Marques

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