Nesta semana, três associações alertaram sobre a falta de estudos que comprovem a eficácia dos medicamentos
Quase
seis meses após o surgimento do primeiro caso de Covid-19, que ocorreu
na cidade chinesa de Wuhan, a doença ainda não possui um tratamento com
alta efetividade. A eficiência do uso da cloroquina e hidroxicloroquina
em pacientes com o novo coronavírus não foi comprovada e cientistas de
todo o mundo continuam estudando o efeito dos medicamentos contra a
doença.
Segundo um levantamento da empresa americana de tecnologia Cytel, em
todo o mundo já foram feitos ou elaborados 230 ensaios clínicos sobre a
utilização dessas drogas em pessoas infectadas com a Covid-19. No final
de abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou o uso da
cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento de Covid-19 a critério
médico e com o consentimento do paciente.
Contudo, a entidade ressalta que “não existem evidências robustas de
alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica
específica para a Covid-19.” Segundo o CFM, apesar de alguns estudos
terem mostrado resultados promissores, “nenhum ainda foi aprovado em
ensaios clínicos com desenho cientificamente adequado, não podendo,
portanto, serem recomendados com segurança.”
O presidente do CFM, Mauro Ribeiro, pondera que a hidroxicloroquina e
a cloroquina “tem diversos efeitos colaterais, que não raros, mas que
podem ser importantes como bradiarritimias (arritimias com frequências
cardíacas baixas), reações cutâneas e falência hepática fulminante.”
Nesta semana, um documento elaborado pela Associação de Medicina
Intensiva Brasileira, pela Sociedade Brasileira de Infectologia e pela
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia recomendou a não
utilização da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento do novo
coronavírus. O documento atenta para os níveis baixos de comprovação
científica sobre a eficiência das drogas na melhora clínica de pacientes
com a doença.
Resultados
A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) também divulgou nota em
que afirma existir poucas evidências da eficácia da cloroquina e
hidroxicloroquina nessa situação. “Desta forma, a SBI fortemente
recomenda que sejam aguardados os resultados dos estudos randomizados
multicêntricos em andamento, incluindo o estudo coordenado pela OMS,
para obter uma melhor conclusão quanto à real eficácia da
hidroxicloroquina e suas associações para o tratamento da Covid-19”, diz
trecho do parecer da entidade.
Segundo o cientista Gustavo Menezes, pós-doutorado em imunologia pela
Universidade de Calgary, no Canadá, e que integra a SBI, há apenas
comprovação da eficácia da cloroquina contra vírus em experimentos in
vitro, ou seja, fora de organismos vivos. “Embora os artigos in vitro
mostrem que a cloroquina tenham um papel importante antiviral, ainda
faltam evidências em clinical trial [ensaio clínico] de que ela funcione
para viroses”, afirmou o pesquisador.
No Brasil, diversas instituições estudam a eficácia desses remédios.
Entre eles hospitais de ponta, como o Albert Einstein e o Sírio Libanês,
ambos em São Paulo. No final de março, o Ministério da Saúde publicou
um protocolo em que autoriza o uso da cloroquina e hidroxicloroquina, a
critério médico, para pacientes com a Covid-19 em estado grave.
Contudo, a pasta entende que falta a comprovação dos benefícios dos
remédios e que eles podem causar complicações, como distúrbios
cardiovasculares.
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