Entre 2016 e 2019, o número de brasileiros que se dedicam ao cuidado
de parentes com 60 anos ou mais subiu de 3,7 milhões para 5,1 milhões. O
quantitativo do ano passado representa 10,5% das 49 milhões de pessoas
que realizam cuidado de moradores.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua
(PNAD-C 2019) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa investiga atividades que são trabalho não remunerado e que
não entram na conta do Produto Interno Bruto (PIB) do país, tais como
afazeres domésticos, cuidado de pessoas, trabalho voluntário e produção
para próprio consumo.
O levantamento aponta que há diferenças no percentual de pessoas que
cuidam de idosos entre as cinco regiões do Brasil. Estados do Nordeste e
do Norte dominam as primeiras posições do ranking nacional. Nas nove
colocações iniciais, apenas o Rio de Janeiro aparece fora do eixo
Norte-Nordeste.
Monitorar ou fazer companhia, auxiliar nos cuidados pessoais,
transportar ou acompanhar até alguma localidade e auxiliar nas
atividades educacionais predominam entre as atividades requeridas pelos
idosos.
“De 2018 para 2019 aumentou o cuidado de idosos, chegando a 10,5%. As
pessoas que realizaram cuidados o fizeram para pessoas de 60 anos ou
mais de idade. A única faixa em que houve redução no período (2016-2019)
foi o cuidado de crianças de 0 a 5 anos, que ficou em 49,2% das pessoas
que realizaram algum tipo de atenção a esses pequenos”, destaca a
analista do IBGE, Alessandra Scalioni Brito.
Afazeres domésticos
A pesquisa revela que o percentual de brasileiros que vêm se
empenhando nos afazeres domésticos também cresceu – passou de 81,3% em
2016 para 85,7% em 2019. No intervalo entre 2018 e o ano passado, houve
um contingente adicional de 1,6 milhão de pessoas.
“Certamente o aumento do desemprego está desempenhando um papel
importante. Naturalmente as pessoas estão fora do mercado de trabalho,
vão ficar mais em casa, e, portanto, realizar mais atividades em casa,
no cuidado doméstico”, avalia o sociólogo e professor da Universidade de
Brasília, Emerson Rocha.
As mulheres seguem com participação crescente nos afazeres domésticos,
passando de 89,9% há quatro anos para 92,1% em 2019. A participação dos
homens também cresceu, mas segue bem abaixo do percentual feminino –
subiu de 71,9% para 78,6%.
A discrepância entre mulheres e homens fica mais evidente quando
analisado o cenário de número de horas dedicadas aos afazeres domésticos
e/ou aos cuidados com pessoas. As mulheres trabalham quase o dobro que
os homens por semana - 18,5h contra 10,4h entre mulheres e homens
ocupados no mercado de trabalho; e 24h contra 12h entre os não ocupados.
O levantamento apontou ainda que a mulher negra é a que mais realiza
afazeres domésticos (94,1%) e o homem pardo o que menos realiza
(76,5%).
“Nós estamos muito longe de uma participação igualitária entre homens e
mulheres nos afazeres domésticos. Temos um movimento progressista, mas
também tem outro movimento de manutenção de todo um conservadorismo
diferenciado, e, portanto, um machismo, que diz que a mulher faz os
afazeres domésticos. Há casos e casos. Às vezes mesmo quando o homem não
tem emprego, ele entende que não tem que fazer o trabalho doméstico”,
opina a socióloga e professora de Antropologia da Universidade de
Brasília, Lia Zanotta.
“Quem menos recebe no mercado de trabalho são as mulheres negras.
Especialmente as mulheres negras tem a chefia do lar sem compartilhar
com o companheiro. São as que mais trabalham dentro de casa para cuidar
dos filhos e quando trabalham fora, são as que menos recebem”, completa a
professora.
Produção para o próprio consumo
As atividades de pessoas que se dedicam à produção para o próprio consumo vêm caindo desde 2016 em todas as regiões do Brasil. Das cerca de 12,8 milhões de pessoas no país, 254 mil deixaram de produzir para consumo próprio.Segundo a pesquisa do IBGE, as mulheres produzem mais que os homens em fabricação de calçados, roupas, móveis, cerâmicas, alimentos ou outros produtos.
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