Proposta em debate na Câmara estipula que empregado transferido ao exterior siga regras trabalhistas do país de destino. Texto já foi aprovado no Senado
Deputados
ouvidos pela Agência do Rádio Mais defenderam a aprovação de projeto de
lei que permitirá ao Brasil sair do isolamento em relação às práticas
internacionais no que diz respeito ao envio de profissionais ao exterior
e tornar mais competitiva a atração de brasileiros lá fora.
O Projeto de Lei do Senado 138/2017, de autoria do ex-senador Armando
Monteiro, foi aprovado na Casa em junho e agora tramita na Comissão de
Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara. O texto
busca alterar a legislação brasileira para a transferência de
trabalhadores ao exterior. Hoje, a chamada lei de expatriados submete o
empregado transferido a outro país a uma combinação de duas legislações:
a brasileira e a do local de destino.
Segundo o projeto, que deu origem na Câmara ao PL 3.801/2019, a
legislação trabalhista aplicável deverá ser a do local da prestação dos
serviços, semelhantemente ao que ocorre na maioria das economias. A
proposta também isenta as empresas do pagamento de encargos trabalhistas
e previdenciários sobre as chamadas verbas de transferência do
empregado ao exterior.
O relator do texto na CTASP, deputado Alexis Fonteyne (NOVO-SP),
considera que a alteração na lei pode evitar problemas para as empresas.
Segundo o parlamentar, os empregadores já estão sobrecarregados com
trâmites legais e tributários, regimes de contrato, visto de trabalho e
cumprimento de obrigações fiscais, por exemplo.
“Temos leis trabalhistas extremamente rigorosas. Quando alguém é
expatriado, o empregado não deixa de cumprir com suas obrigações
trabalhistas brasileiras, mesmo trabalhando em outro país. Ele acaba
custando muito caro para a empresa que vai o expatriar”, aponta o
parlamentar.
A pesquisa
Mobility Brasil 2018, realizada pela consultoria Global Line entre
agosto e setembro do ano passado, mostra que a quantidade de brasileiros
que passaram a exercer suas atividades no exterior subiu de 5.855 para
6.044 entre 2017 e 2018. Segundo o levantamento, o número de brasileiros
empregados em empresas estrangeiras cresceu 16%, enquanto o número de
brasileiros que trabalham no exterior e atuam em empresas brasileiras
caiu 25% no mesmo período. A Global Line ouviu representantes de 181
empresas multinacionais e 350 profissionais expatriados.
Direitos mantidos
Direitos mantidos
Ainda que os empregados tenham que seguir as leis trabalhistas do
país onde vão exercer suas atividades, o PL 3.801/2019 exige que sejam
mantidos, no Brasil, o recolhimento das contribuições para Previdência
Social, FGTS e PIS/Pasep.
Fonteyne explica que, além dos gastos com encargos, as empresas
também arcam hoje com despesas nos países de destino dos trabalhadores.
“A empresa tem que cumprir as obrigações do Fundo de Garantia (FGTS),
décimo terceiro, entre outras coisas. Em outros países, não é diferente.
França e Alemanha, por exemplo, também têm regras específicas”,
completa.
Para a especialista em trabalhadores expatriados e CEO da Lion Tax, Pamela Helena Borges, a legislação vigente no Brasil é complexa e subjetiva. Por isso, considera que a aprovação da proposta em debate no Congresso Nacional representa um marco para as empresas brasileiras, visto que a maioria delas tem dúvidas, principalmente, no recolhimento de encargos.
Para a especialista em trabalhadores expatriados e CEO da Lion Tax, Pamela Helena Borges, a legislação vigente no Brasil é complexa e subjetiva. Por isso, considera que a aprovação da proposta em debate no Congresso Nacional representa um marco para as empresas brasileiras, visto que a maioria delas tem dúvidas, principalmente, no recolhimento de encargos.
“Esse projeto de lei deixa claro que em caso de transferência, só
deve ser lançado, a recolhimento de verbas trabalhistas no Brasil, o
salário-base a partir da data de transferência do exterior, não o novo
salário, como ocorre hoje. Isso seria fantástico, seria uma economia de
custos muito relevante para as empresas que estão internacionalizadas”,
exemplifica.
O advogado e especialista em direito trabalhista Cleber Lira avalia a
nova legislação como uma oportunidade para os trabalhadores
brasileiros, que podem ganhar espaço no mercado externo. A mudança,
segundo ele, também vai facilitar a operação de multinacionais
brasileiras no exterior. “Eu vejo com bons olhos essa alteração. É uma
chance de igualar o trabalhador nacional aos demais mercados
internacionais”, afirma.
Os setores econômicos com maior crescimento no número de expatriados
entre 2017 e 2018 foram os de indústrias diversas, com 14%; veículos e
peças, com 4%; e serviços diversos e metalurgia, com 1% cada.
Em relação aos cargos ocupados pelos brasileiros nas empresas
sediadas em outros países, 43% ocupam funções de presidência e
diretoria; 37% estão em gerências; e 20% desempenham funções técnicas e
operacionais, segundo dados da consultoria Global Line.
Na opinião do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), a crescente demanda
por mão de obra brasileira em outros países exige ajustes na
legislação. Para ele, o Brasil precisa facilitar a saída de pessoas
capacitadas para outros países.
“Estamos em 2019, não temos mais fronteiras. Precisamos ser
globalizados, importar e exportar conhecimento e trabalho. Cada país é
bom em alguma coisa. Se pessoas saem do Brasil para outros países para
trazer ou levar conhecimento, não temos nada a perder. Pelo contrário, a
gente tem que incentivar”, ressalta.
Membro da comissão que debate o projeto na Câmara, o deputado Silvio
Costa Filho (Republicanos-PE) é favorável à matéria e entende que o tema
precisa ser amplamente discutido no colegiado.
“Acho importante que a gente possa promover algumas audiências públicas e ver como são as experiências pelo mundo, até para que o Brasil possa compreender como são feitas as legislações mais avançadas”, considera o parlamentar.
“Acho importante que a gente possa promover algumas audiências públicas e ver como são as experiências pelo mundo, até para que o Brasil possa compreender como são feitas as legislações mais avançadas”, considera o parlamentar.
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