Isolamento e quarentena para evitar maior propagação do vírus são recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas também causam problemas
Pouco
mais de um mês após a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus
no Brasil, microempreendedores começam a sentir ainda mais os efeitos da
pandemia. Para evitar aglomerações e a possibilidade de o vírus se
espalhar mais rapidamente, governadores e prefeitos restringiram a
circulação de pessoas e o funcionamento do comércio em shoppings, lojas
de rua e salões de beleza, por exemplo.
Francielson da Silva Lima, 32 anos, é
dono de um salão de beleza no Distrito Federal. Ele trabalha com outros
dois funcionários, que foram dispensados, já que o espaço está fechado
desde o último decreto do governador do DF, Ibaneis Rocha. O
microempreendedor afirma que não pode pagá-los durante a quarentena,
pois trabalham em regime de comissão e, se não há clientes, não há
dinheiro.
Quando questionado sobre o que fará para
se sustentar e manter o negócio caso o governo amplie o decreto, ele
responde: “Deus proverá”. Francielson tem incerteza quanto ao futuro.
“Se decretou que fechou o comércio,
então não é que diminuiu o trabalho, acabou o trabalho. Não tem
trabalho. Eu tinha, aproximadamente, de 150 a 200 clientes por mês,
dependendo do fluxo. Quanto mais tempo ficar fechado, mais prejuízo a
gente vai ter, porque como vamos arcar com as nossas despesas, né?”.
Depois de o Governo Federal anunciar um
financiamento para socorrer pequenas e médias empresas (saiba mais,
abaixo) a expectativa agora é de que novas medidas ocorram para ajudar
os microempreendedores individuais (Mei), e as microempresas, como a de
Francielson.
De acordo com o Sebrae (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), são 9,7 milhões de
Meis e 7,5 milhões de microempresas, o que totaliza cerca de 17,2
milhões de micronegócios, em todo o país.
Enquanto o governo não anuncia algum
programa para esse setor, Alexandre Arci, economista, diz que o momento é
de reflexão. Ele aconselha trabalhadores, famílias e empresários a
reverem o orçamento e se prepararem para momentos de crise, como este
causado pela pandemia do coronavírus.
“O cidadão brasileiro e mundial tem
que se preocupar com educação financeira, em sempre ter uma reserva de
emergência, se preocupar em não ter dentro do orçamento desperdício. Tem
que tem um fundo de emergência para que atravesse momentos como esse,
caso ocorram, como menos trauma, menos risco e menos dor”.
Os decretos que proíbem aglomerações e o
funcionamento de diversos estabelecimentos não afetam, apenas, os
comerciantes que tiveram de fechar as portas. A pandemia do novo
coronavírus prejudica, também, os chamados serviços essenciais, como
aqueles do ramo de alimentação.
É o caso de Luísa Rodrigues. A
empreendedora é dona de uma padaria, que tem 26 colaboradores. Duas
funcionárias, inclusive, tiveram as férias adiantadas por fazerem parte
do grupo de risco. Luísa sugere que os boletos tivessem seus prazos de
pagamento prorrogados, pois com a queda nas vendas, há menos dinheiro
para pagar os fornecedores e as despesas com água e luz, por exemplo.
Mesmo aberta, a padaria já registra
prejuízos que vão impactar em quase 50% do faturamento mensal. Segundo
ela, as vendas caíram bastante, porque há menos pessoas nas ruas. Por
enquanto, o serviço de entrega não dá os mesmos resultados. Apesar
disso, ela não tem intenção de demitir nenhum funcionário.
“As pessoas têm ficado mais em casa.
O movimento diminuiu bastante. Em termos financeiros, diminuiu mais de
40% das vendas. Isso dá mais ou menos cinco mil reais por dia. No final
do mês vão ser 150 mil a menos na venda. Se continuar nesse ritmo a
gente vai ter um prejuízo muito grande”.
Para tentar diminuir o impacto na
economia brasileira, o Banco Central anunciou, na última sexta-feira
(27), uma linha de crédito emergencial de R$ 40 bilhões para que
pequenas e médias empresas consigam quitar as folhas de pagamento pelos
próximos dois meses.
O programa se destina exclusivamente
para pagar o salário dos funcionários das empresas que faturam entre R$
360 mil e R$ 10 milhões de reais e tem, como contrapartida, a exigência
de que o empresário que fizer o empréstimo não demita o funcionário no
período de dois meses. O programa é limitado a dois salários mínimos
mensais por funcionário, hoje equivalente a R$ 2.090.
A expectativa do governo federal é de que a medida beneficie 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de trabalhadores.
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