Projeto Água Pura gere 811 dessalinizadores em 7 estados. Instalação em Pernambuco pode levar até dois anos
Há
pouco mais de dois anos, a rotina da agricultora Antônia Gregório de
Amorim era totalmente diferente. No município de Tauá, no meio do sertão
do Ceará, sob o sol quente, ela e a família esperavam ansiosamente a
visita semanal do caminhão pipa para abastecer as cisternas das casas.
Às vezes, o caminhão não vinha, obrigando a família a escolher entre a
sede ou pelo consumo da água salobra de um poço. “Às vezes o caminhão
pipa vinha duas vezes por mês. Aí quando terminava a água da cisterna o
pessoal ficava esperando pra ele abastecer. E muitas vezes essa água
dava diarréia e vômito nas crianças”, lembra.
Tudo mudou há dois anos quando a
comunidade onde mora Antônia recebeu a instalação de um dessalinizador. O
processo é feito por máquinas que bombeiam a água salobra através de
membranas, que deixam o líquido passar mas seguram o sal e outras
impurezas. A água que sai é limpa e pronta para beber ou cozinhar.
Agora, a água para consumo pode ser buscada diariamente pela família.
A instalação do equipamento na
comunidade de Antônia foi feita através do Programa Água Doce,
atualmente gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). O
programa existe desde 2003 e vem recebendo expansão desde o ano passado.
Nesse período, 221 sistemas dessalinizadores foram instalados, o que
significa que 88 mil pessoas passaram a ter acesso a água potável. Os
estados do Ceará, Paraíba, Sergipe, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e
Bahia já contam com unidades dessalinizadoras, 811 no total, mas agora a
tecnologia também vai ser levada para o estado de Pernambuco. De acordo
com o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento, cerca de 20% da
população do estado não tem acesso à rede de água potável.
Para a instalação de 170 sistemas de
dessalinização no semiárido pernambucano, o Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR) vai investir R$ 33,2 milhões. 21
municípios vão receber equipamentos, beneficiando 60 mil pessoas,
principalmente trabalhadores rurais de comunidades afastadas. A previsão
é que tudo seja concluído em no máximo dois anos.
“O benefício que essa tecnologia traz é
propiciar água de boa qualidade e segura para o consumo humano. E ela
beneficia principalmente o Nordeste onde 90% das águas oriundas de poços
são salobras. Essas águas podem ser dessalinizadas para beneficiar as
comunidades difusas aqui na região”, destaca o professor Kepler França,
engenheiro químico do Laboratório de Referência em Dessalinização da
Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.
Apesar de serem os primeiros
equipamentos instalados pelo programa Água Doce em Pernambuco, o uso de
dessalinizadores não é novidade no estado. Na ilha de Fernando de
Noronha, por exemplo, o processo já é feito há quase duas décadas e o
processo fornece 40% da água consumida nas casas.
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