Izalci Lucas entende que instituições como SESI e SENAI têm “mais capacidade de execução” para atender população em momento de crise
A
decisão do governo federal de reduzir pela metade, até 30 de junho, as
contribuições recolhidas pelas empresas para financiar instituições do
Sistema S, pode sofrer alterações no Congresso Nacional. O vice-líder do
governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), revelou que está em contato
com membros da área econômica do Planalto para reduzir o corte, que já
começou a valer nesta quarta-feira (1°).
“Nós não podemos mexer nas coisas que
funcionam. E se tem uma coisa que funciona no Brasil, e bem, é o Sistema
S. Quem contribui são as grandes empresas e quem serão penalizadas são
as pequenas empresas”, afirma o parlamentar.
Na avaliação do senador, é um “erro
muito grande” retirar 50% dos recursos dessas entidades. Por isso, ele
apresentou uma emenda para suprimir esse corte da Medida Provisória
932/2020, que precisa ser aprovada pelo Legislativo para continuar em
vigor.
“Temos que entender que podemos
negociar. Reduzir esse percentual, talvez diminuir 20% e, os 30%
restantes, o próprio Sistema S poderia aplicar no combate ao
coronavírus. Eles têm muito mais capacidade de execução do que nós do
governo”, argumenta.
Responsável por administrar SESI e
SENAI, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alega que o corte de
50%, estendido a entidades ligadas ao comércio, transporte,
cooperativismo e setor rural, vai afetar “de forma drástica” a
assistência prestada à população, em especial na educação básica de
jovens de baixa renda, no atendimento à saúde do trabalhador e na
formação profissional.
“Ao reduzir os recursos destinados ao
SESI e ao SENAI, sob a justificativa de aliviar o caixa das empresas, o
governo cria outro problema muito maior: desarticula e, em alguns casos,
inviabiliza a principal rede de apoio à tecnologia e à inovação de
empreendimentos industriais”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga
de Andrade.
Com orçamento menor, o fechamento de
escolas, vagas de qualificação e até demissões de trabalhadores podem
ser tornar realidade. O SENAI estima que 136 centros de educação
profissional e de serviços tecnológicos e de inovação podem ser fechados
e 830 mil vagas de qualificação profissional podem deixar de ser
ofertadas.
Já o SESI teme que 150 escolas e centros
de atendimento à saúde do trabalhador fechem as portas e 217 mil vagas
para alunos de educação básica e continuada deixem de existir. A
instituição prevê ainda que 1,9 milhão de pessoas poderão sofrer com a
falta atendimentos em saúde. Até a estrutura de ciência e tecnologia
mantida por SESI e SENAI pode ser afetada com os cortes e gerar a
demissão de especialistas e pesquisadores que formam a maior rede de
apoio à inovação do país.
“Somos uma rede de proteção social dos
trabalhadores da indústria e milhares de famílias brasileiras. O
eventual corte aprofunda ainda mais a crise que estamos vivendo”,
ressalta Robson Andrade.
Combate ao coronavírus em risco
Desde que a pandemia de Covid-19 agravou a crise econômica e social no país, SESI e SENAI têm unido esforços para ajudar, em parceria com setores da indústria e federações estaduais, a suprir hospitais públicos com insumos e equipamentos necessários ao tratamento infectados, como máscaras, aventais e respiradores mecânicos. Além disso, as duas instituições destinaram, por meio do Edital de Inovação, R$ 15 milhões para projetos que tenham aplicação imediata e sejam destinados a prevenir, diagnosticar e tratar pacientes com coronavírus.
O SENAI também já colocou à disposição,
de forma gratuita, 100 mil vagas em cursos a distância com temas ligados
à indústria 4.0, enquanto o SESI, tem realizado vacinações contra a
gripe comum em diversos estados, com capacidade imunizar até 1,4 milhão
pessoas.
Caso o corte anunciado pelo governo seja
mantido, o presidente da CNI indica que essas ações podem ser suspensas
e até canceladas. “O Sistema Indústria está à disposição das
autoridades brasileiras para adotar outras iniciativas que se façam
necessárias no combate à Covid-19. Para isso, é fundamental que a
redução nas contribuições feitas pelas empresas ao SESI e ao SENAI seja
revista, para que possamos ajudar a salvar empresas, empregos e vidas”,
sustenta Robson Andrade.
A diretora do Centro de Excelência e
Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getúlio Vargas,
Cláudia Costin, salienta que SESI e SENAI encontraram soluções práticas
para atender alunos de ensino regular e até dar oportunidade para jovens
que estão em casa e sem trabalho. A especialista reforça ainda que as
instituições exercem papel indispensável também no contexto da crise do
coronavírus.
“O trabalho vai desde produção de
máscaras, cessão de espaços para construção de hospitais, um
supercomputador que está sendo alocado para a pesquisa sobre o
coronavírus, a questão de capacitação de gente que está em casa e que
precisa de cursos a distância de curta duração”, exemplifica.
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