De acordo com o levantamento divulgado pelo Ipea, o total de investimentos deste segmento em inovação registrou uma queda de 10,6% das receitas líquidas em 2011 para 1,9% em 2017
As
consequências da pandemia provocada pelo avanço do novo coronavírus no
Brasil externaram a precariedade de alguns setores, principalmente
ligados à área da saúde. A atual crise deixou claro, por exemplo, que a
falta de investimentos em inovação repercute na maior fragilidade
tecnológica do Complexo Industrial da Saúde (CIS). É o que revela um
estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base na
Pintec 2017.
Um dos autores do estudo, o pesquisador Rafael Leão afirma que o
setor de equipamentos médicos é o que mais causa preocupação, já que
fornece produtos importantes para o Sistema Único de Saúde (SUS) e
mantém indicadores insuficientes de gasto em pesquisa e desenvolvimento
desde 2011. “A queda dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e
inovação em saúde representa um risco para a saúde da população
brasileira”, avalia.
“O Brasil, hoje, depende de insumos hospitalares, médicos e
farmacêuticos importados. Em situações de crise aguda como a que temos
agora, nós somos pegos de ‘calças curtas’, porque você não consegue
acessar o mercado internacional, já que houve um desabastecimento
global. Quando você se volta para a produção interna e percebe que não
há respostas tecnologicamente adequadas, assim você tem um cenário de
acirramento da crise sanitária”, opina Leão.
O professor de finanças do IBMEC, George Sales, acredita que, de
maneira geral, o Brasil investe pouco em inovação e pesquisa. Na
avaliação dele, essa carência afeta de forma direta o desenvolvimento da
saúde do país, além de interferir em projetos econômicos.
“No caso de uma situação crítica como a que vivemos hoje, de uma
pandemia, ter uma indústria nacional no setor de saúde ajudaria
bastante. A gente fica dependendo de importação e concorremos com outros
países na formação de uma fila para ser atendido, com gastos mais
elevados. Em momentos de crise, mostra-se que o que deixamos de
investir, pagamos agora”, opina professor.
De acordo com o levantamento divulgado pelo Ipea, o total de
investimentos deste segmento em inovação registrou uma queda de 10,6%
das receitas líquidas em 2011 para 1,9% em 2017. Na indústria de
materiais médicos, passou de 0,7% em 2008 para 1,7% em 2014, declinando
para 1% em 2017. Já na indústria farmacêutica, houve redução de 4,9% em
2008 para 3,5% em 2017.
Rafael Leão chama a atenção, no entanto, para a elevação consistente
de gastos em pesquisa e desenvolvimento em proporção às inversões totais
em atividades inovadoras. Na prática, segundo o pesquisador, isso
significa que há uma tendência de alteração do padrão brasileiro, em
relação ao que já fazem países desenvolvidos como Alemanha, França,
Espanha e Itália.
“O gasto em pesquisa e desenvolvimento é uma fração do gasto total
com inovação. Dessa forma, podemos dizer que a parte mais nobre do gasto
em inovação aumentou na indústria farmacêutica e alcançou, na última
pesquisa, o patamar de alguns países europeus, em torno de 70%”, explica
Leão.
Ainda segundo o balanço, os investimentos em inovação no conjunto do
Complexo Industrial da Saúde registraram diminuição de forma contínua
desde 2011, quando passou de 4,6% das receitas líquidas para 3,5% em
2017.
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