Em entrevista exclusiva ao portal Brasil61.com, Priscila Linck fala sobre como o mercado de calçados tem reagido à pandemia e a expectativa de retomada do crescimento do segmento no cenário pós-crise
A
crise causada pela pandemia da Covid-19 teve impacto significativo no
mercado calçadista brasileiro. O Brasil é o quarto maior produtor
mundial de calçados, o maior fora da Ásia. O mercado doméstico é
diversificado e há uma série de polos produtivos espalhados pelas cinco
regiões do país. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de
Calçado (Abicalçados) apontam que a produção do produto teve queda de
quase 35% entre janeiro e agosto de 2020.
Em entrevista exclusiva ao portal Brasil61.com, a coordenadora de
Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, explicou os
desafios que o mercado calçadista tem enfrentado desde o início da crise
sanitária no país. Segundo Linck, em números gerais, o segmento
continua acumulando quedas no segundo semestre, mas em menor escalda
quando comparados os números com os seis primeiros meses de 2020.
“Se pegarmos o acumulado desde junho, é melhor do que o primeiro
semestre. Claro que continuamos com as quedas, mas não tão
significativas quanto nos seis primeiros meses. A partir do final do
ano, diria os dois últimos meses, esperamos que essa evolução se acelere
um pouco, mas de fato uma recuperação é esperada a partir do ano que
vem”, diz.
Em relação aos empregos, segundo a Abicalçados, foram cerca de 60 mil
postos de trabalho perdidos entre março e junho. Priscila chama atenção
para um princípio de reação do mercado em julho e para as medidas do
governo federal de socorro às empresas, mas destaca que a retomada será
gradual.
“Se olharmos para os dados de emprego mais precisamente, o estado de São
Paulo teve impacto bem significativo, seguido de Nova Serrana (MG) e do
Rio Grande do Sul. O Nordeste teve impacto também, mas não foi tão
grande quanto nos estados mais ao Sul. No mês de julho houve geração de
postos de trabalho.
Foram pouco mais de mil postos. Claro que não é suficiente de reverter o
quadro de queda, mas é um indicativo de virada. Naturalmente, essas
medidas de manutenção de empego e renda, como a redução da jornada de
trabalho e suspensão de contratos de trabalho, ajudaram bastante o setor
ter uma intensidade significativa de mão-de-obra”, destaca.
Quanto ao cenário do mercado calçadista após a pandemia, Priscila
explica que a retomada do crescimento do setor está diretamente ligada à
recuperação econômica do Brasil, já que 85% da produção brasileira fica
em território nacional.
“É um setor dependente de demanda. Está atrelado a questões de emprego e
renda. Claro que, no mercado doméstico, a abertura gradual do comércio
teve impacto positivo na retomada de pedidos que a indústria vem
recebendo. É difícil prever o cenário porque é um setor que vai depender
da retomada macroeconômica do país. Nossa retomada vai depender da
retomada do consumo no Brasil”, ressalta.
“É um processo gradual para se reconstituir essa parcela da produção que
foi perdida, mas esperamos conseguir iniciar esse processo a partir do
ano que vem”, completa.
Quanto ao cenário do mercado externo, Priscila ressalta que o Brasil já
vinha observando instabilidade nas exportações desde o começo do ano.
Entre janeiro e agosto, em comparação com o mesmo período do ano
passado, houve redução de cerca de 33% nas exportações de calçados. Os
principais destinos dos produtos brasileiros são os Estados Unidos, a
Argentina e a França.
“Já vínhamos acumulando queda nas exportações desde janeiro. Diferente
do mercado doméstico, que a gente só teve essa reversão a partir de
março, sendo que a produção de calçados vinha crescendo. Nos meses de
junho, julho e agosto, observamos quedas menos intensas, mas ainda assim
quedas. Um aspecto positivo é que, ainda que continuemos acumulando
sucessivas quedas nas exportações, se olharmos para o mês de agosto, em
comparação com o mesmo mês de 2019, conseguimos aumentar as exportações
para os Estados Unidos, que é nosso principal mercado”, pontua.
Veja a entrevista completa:
Nenhum comentário:
Postar um comentário