Recuperada, BR-163 vai aumentar a produtividade de escoamento e impactar mercado bilionário dos grãos
O
sofrimento em cruzar o trecho Cuiabá-Santarém sempre teve um preço alto
para a produção e o escoamento de grãos pelo Arco Norte, definido pelo
governo federal como um plano estratégico que compreende portos ou
estações de transbordos dos estados de Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá e
Maranhão. O cálculo desse valor tem uma moeda singular, flutuante e
indomável: o frete. Na condição física e intrafegável que dominou a
história da BR-163, o repasse desse serviço chegou a 25% a mais do valor
justo para transcorrer os quilômetros entre Sorriso (MT) e Miritituba
(PA).
Esse percentual impactou diretamente os diversos atores dessa cadeia.
Do agricultor ao caminhoneiro, ninguém lucrou em enfrentar os trechos
até então nunca concluídos. A esperança é de que, com a anunciada
pavimentação da rodovia, com inauguração marcada para ser entregue em
dezembro, as contas não passarão mais pela faixa vermelha do prejuízo.
A BR-163 foi totalmente pavimentada em 28 de novembro de 2019 e deve
ser inaugurada em janeiro de 2020, com a presença do presidente da
República, Jair Bolsonaro. Na semana passada, o ministro da
Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, anunciou que mais 30 quilômetros da
estrada, numa ligação com Santarém, serão concluídos, anunciando que
"está na prioridade do Ministério”.
“Não tem rodovia, não tem hidrovia, não tem ferrovia que leve a
produção de milhões de toneladas de grãos do Mato Grosso aos portos que
têm capacidade de escoar. Por isso, a BR-163 é tão importante. Com a
conclusão, o custo de transporte total despenca em 40%”, analisa a
assessora técnica Elisângela Pereira Lopes, da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que estima uma colheita de 215
milhões toneladas de grãos na safra brasileira de 2019 (115 milhões de
soja e 99,984 milhões de milho)
Aguardada há 46 anos, a inauguração da BR-163 torna-se estratégica ao
sistema econômico de uma dos setores mais importantes do país. “A
BR-163 é o eixo principal do escoamento de grande parte da produção, que
a cada ano tem aumentado na saída pelo Arco Norte, os portos da
região”, aponta a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
Tereza Cristina,
A projeção do governo federal está ancorada em estatísticas. Em 2018,
segundo dados da CNA, foram escoados entre Sorriso e
Miritituba/Santarém 8,7 milhões de toneladas do grãos. “Se a rodovia
estivesse devidamente asfaltada, o setor economizaria R$ 435 milhões”,
aponta Edeon Vaz Ferreira, presidente da Câmara Temática de
Infraestrutura e Logística do Agronegócio (vinculada ao Ministério da
Infraestrutura) e representante da Associação Brasileira dos Produtores
de Soja (Aprosoja).
Quando o trecho for inaugurado da BR-163 em dezembro, o impacto
esperado pode ir além do preço direto do frete. A expectativa é de parar
de usar outros portos mais distantes. Hoje, devido às restrições de
escoamento pelo Arco Norte, uma parte significativa da produção de Mato
Grosso segue para os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). Para o
caminhão, o máximo que você deve rodar para ter lucratividade é 1000 km.
As distâncias do Mato Grosso para São Paulo e Paraná são de 1500 km e
2000 km.
Em condições de trafegabilidade, o escoamento pela BR-163 é a melhor
opção de logística para os produtos que serão exportados para outros
países. As dificuldades encontradas na rodovia, no entanto, fazem com
que menos da metade do que é produzido no Mato Grosso, 43%, siga essa
rota. “A gente verificou que os portos do Arco-Norte têm capacidade para
escoar 70 milhões de toneladas de grãos, mas só estamos escoando 32,5
milhões, porque não tem infraestrutura de acesso”, avalia Elisângela.
“Como esse produto chega nas margens do Rio Tapajós, embarca em
barcaças e são direcionados a outros portos. Podemos ter uma redução por
volta de 30%”, projeta Edeon, que aposta em melhorias das diversas
culturas de grãos. “Como o milho tem um valor muito menor do que o da
soja, o impacto será muito maior”, opina
.FRETES FLUTUANTES
As variações do valor de frete no trecho Sorriso – Miritituba são
sazonais. Hoje, a média é de R$ 200 por tonelada. Essas flutuações
deixam os agricultores sem o controle efetivo do valor do negócio.
Quando a demanda estoura. É preciso abrir negociações para conter os
prejuízos. O produtor de grãos e presidente do Sindicato Rural de
Sorriso, Tiago Stefanello, negocia o frete por saca para circular esse
trecho (atualmente, gasta R$ 16). Esse valor, no entanto, varia pela
época do ano, quando chove o preço dispara.
A finalização do trecho da BR-163 promete pôr fim a essa oscilação.
“Aumentaram as obras em relação aos governos passados e essa ligação com
os portos do Arco Norte vão trazer economias. Mas precisamos pensar na
duplicação da via dentro do Mato Grosso, que hoje é ponto de acidente”,
destaca o produtor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário