Texto obriga que companhias com patrimônio de R$ 1 bi ou mais emprestem dinheiro ao governo para pagamento de despesas emergenciais; setor teme menos fluxo de caixa em meio à crise
O
Projeto de Lei Complementar 34/2020, que prevê destinação de 10% do
lucro de empresas com patrimônio superior a R$ 1 bilhão a empréstimos
compulsórios, pode “respingar” em empresas de pequeno e médio porte. A
afirmação é do presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo
Lopes, que defende a retirada do projeto da Câmara dos Deputados.
Segundo ele, a proposta pode colocar em risco a produção das indústrias
em meio à pandemia.
“As empresas enfrentam graves crises de
demanda, com sérios problemas de caixa e grande dificuldade de acesso a
crédito”, explica Polo. “As empresas de grande porte são alvo do PLP,
que ainda criam algum nível de demanda às milhares de empresas de
pequenos e médios portes, em suas respectivas cadeias de fornecimento.
Com isso, entendemos que elas não podem ser penalizadas com mais um
imposto.”
“A indústria tem ajudado e muito no
enfrentamento da covid-19, com a recuperação de respiradores,
ventiladores, máscaras e construção de hospitais de campanha”,
acrescenta Lopes.
O presidente-executivo da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José
Velloso, endossa o discurso sobre a dificuldade em manter o capital de
giro e acrescenta que as empresas têm se desdobrado para pagar despesas e
funcionários. “O Brasil e o mundo passam por uma severa crise em que um
dos maiores problemas é a falta de liquidez do mercado. Entendemos que
uma medida como essa pode agravar ainda mais a situação”, alerta.
Para a especialista em Gestão de
Pequenas e Médias Empresas, Catharina Sacerdote, o projeto recai,
teoricamente, sobre empresas que têm maior capacidade financeira e
alerta sobre o risco de desemprego e queda de investimentos. “Sem dúvida
que um dos aspectos negativos dessa decisão pode ser o agravamento do
capital de giro das empresas, que é utilizado para custear as folhas de
pagamento, além dos investimentos em produção.”
Em longo prazo, Catharina acredita que
isso pode refletir até mesmo nas riquezas produzidas pelo país. “Pode
impactar a produtividade dessas empresas e depois na nossa medida de
PIB. Além disso, pode provocar grande insegurança jurídica para os
investidores, principalmente os grandes e os do exterior”, completa.
PLP 34/2020
Entre outros pontos, a proposta estabelece que empresas com patrimônio
líquido igual ou superior a
R$ 1 bilhão na data de publicação da norma
estarão sujeitas ao empréstimo compulsório. O governo federal pode
cobrar até 10% do lucro líquido informado nos últimos 12 meses. Pelo
texto, o Ministério da Economia será o responsável por definir o
percentual de cobrança de cada setor econômico.
Em contrapartida, o PLP 34/2020 prevê
que os valores sejam restituídos às empresas em até quatro anos,
contados a partir do fim da situação de calamidade pública em função do
coronavírus. Caso seja aprovada pelos deputados, a proposta ainda
precisa do aval do Plenário do Senado e da sanção do presidente Jair
Bolsonaro para começar a valer.
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