Vendas para China e desempenhos de lavouras de soja e café são responsáveis pela projeção; instituto prevê recuperação das exportações de bovinos ainda este ano
Mesmo
com o país diante da pandemia do coronavírus, o PIB do setor
agropecuário brasileiro deve registrar crescimento de 2,5% neste ano. A
previsão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com base
em dados de safra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Quando a doença chegou ao Brasil, alguns importantes mercados
consumidores internacionais, como o chinês, estavam em processo de
reabertura e normalização. O setor foi favorecido pela maior demanda do
país asiático por alimentos. Segundo o IPEA, as exportações de produtos
agropecuários tiveram aumento de 7% de janeiro a abril de 2020, na
comparação com o mesmo período do ano passado.
“Do lado da oferta, lavouras importantes, como a soja, que pesa bastante
na produção agropecuária, tem um calendário de colheita muito
concentrado no primeiro trimestre. O arroz também. São lavouras que,
pelo período da colheita, conseguiu que se tivesse um excelente
desempenho antes mesmo da pandemia chegar ao Brasil”, avalia o
economista e pesquisador do IPEA, Fábio Servo.
A safra da soja 2019/2020, segundo o IPEA, já foi colhida e se mantém como principal componente do PIB agropecuário brasileiro.
O IPEA apontou também possíveis impactos da Covid-19 sobre a demanda por
produtos agropecuários em 2020. No cenário menos favorável, apesar da
possibilidade de recuo da demanda, o PIB agropecuário cresce, ainda que
em menor escala: 1,3%.
Sustentado pelas produções de soja e café – 6,7% e 1,5%, respectivamente
– a lavoura apresenta perspectiva de crescimento de 2,8%. A
cana-de-açúcar é a cultura que pode sofrer maior impacto em virtude da
crise do coronavírus e da redução do preço internacional do petróleo.
Diante disso, pode ter queda de 1,9% na produção.
“A cana-de-açúçar é uma produção muito importante para o Brasil. A queda
no preço do petróleo acabou impactando no preço do etanol. Uma parte da
produção de cana-de-açúcar vai para produção de etanol. Estamos
observando de perto preocupados com um risco financeiro maior caso o
preço do etanol não recupere a tempo”, destaca Fábio Servo.
Pecuária
A falta de demanda do mercado externo devido à pandemia também trouxe
prejuízos para o setor de proteínas animais. Segundo os pesquisadores do
IPEA, no primeiro trimestre, houve interrupção de compradores
internacionais.
Na pecuária, o cenário de possível impacto do coronavírus pode
apresentar risco de recuo de 2%. Mesmo assim, há perspectiva de
crescimento para o setor em 2020 de 1,5%.
“Deve haver uma recuperação muito grande da exportação de bovinos para a
China. Há um crescimento muito forte também de outras proteínas
animais, como suínos, frangos, não só para a China, mas também para a
Arábia Saudita. O mercado internacional tende a auxiliar bastante na
recuperação da produção da pecuária brasileira”, opina Servo.
O pesquisador do Ipea Fábio Servo pondera ainda que o distanciamento
social imposto pela pandemia promoveu uma mudança nos padrões de consumo
da população. Picos de demanda impulsionaram os preços de alguns
produtos do setor agropecuário.
“Verificamos queda nos food services e preferência por cortes de carne
de menor valor. Os cortes mais caros têm sido postergados pelos
frigoríficos em linha com a mudança do padrão de consumo em decorrência
do que vivemos. Ainda assim, a produção da lavoura sustentou o resultado
positivo do setor agropecuário”, avalia.
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