Uma
reunião entre os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi
Alcolumbre, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto
Barroso, tornou mais próxima a possibilidade de que as eleições
municipais deste ano sejam adiadas. Isso porque depois desse encontro,
que ocorreu na semana passada (08/06) não só o ministro Barroso, mas
também Maia se pronunciou publicamente a favor do adiamento do pleito.
Em uma série de entrevistas, o
presidente da Câmara defendeu o adiamento por 30 ou 60 dias e a
adaptação do processo eleitoral para que todos os candidatos tenham
igual visibilidade. “É muito difícil, no meu ponto de vista, que até
setembro você tenha todas as regiões do Brasil com a curva de
contaminação em queda. Então, na minha avaliação pessoal, e acho que dos
médicos também, haverá a necessidade de um adiamento por 30, 40 ou 60
dias. Mas isso depende de Emenda Constitucional”, defendeu Maia em entrevista a uma emissora de rádio.
Depois da reunião, o ministro do TSE
Luís Roberto Barroso também veio a público defender o adiamento das
eleições. Segundo ele, nesta terça-feira (16) o TSE vai promover uma
reunião entre parlamentares e médicos para discutir o assunto. “Para que
todos possamos ter as mesmas informações, sem nenhum tipo de
assimetria, a pedido dos presidentes da Câmara e do Senado, vou
organizar uma videoconferência com todos os médicos sanitaristas e
infectologistas com os quais me aconselhei, para uma reunião com os
líderes partidários”, anunciou.
Um processo difícil
A data em que ocorrem as eleições está
na Constituição Federal: as votações sempre são realizadas no primeiro e
no último domingo de outubro. Por isso, alterar a norma não é tarefa
fácil: depende de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Diferente
de projetos de leis comuns, que precisam de maioria simples, PECs
precisam do voto positivo de 3/5 dos deputados em dois turnos. No
Senado, é preciso aprovação de 60%. São 308 deputados e 49 senadores a
serem convencidos, no mínimo. Grande parte deles bastante ligados aos
interesses de seus municípios de origem. Diferente do proposto por Maia,
prefeitos defendem que as votações fiquem para o ano que vem ou até
para 2022, juntamente com as eleições para cargos nacionais.
O presidente da Confederação Nacional
dos Municípios (CNM), Glademir Aroudi, argumenta que o resultado das
eleições pode ser afetado pela impossibilidade de candidatos menos
conhecidos terem contato com o eleitor. “Fazer campanha política no
Brasil está na cultura do candidato e do eleitor. Nos pequenos e médios
municípios do país, a campanha nasce nas visitas, nas residência das
pessoas. Você fazendo eleições em setembro, outubro ou novembro, nós
vamos colocar em risco a saúde da população brasileira “, defende.
Propostas de adiamento já tramitam no Congresso. PECs com esse teor chegaram a ser apresentadas pelo senador Major Olimpio (PSL-SP) e pelo senador Elmano Ferrer (Podemos-PI).
Já a Academia Brasileira de Direito
Eleitoral e Político (ABRADEP) acredita que uma possível prorrogação das
eleições para o ano que vem ou depois pode ser prejudicial para a
democracia. “Imagina que você é um eleitor de um município, que está
vendo que a gestão do prefeito não está adequada, você está aguardando a
eleição para que tenha uma alternância no poder, e que de repente o
Congresso diga que não vai ser agora, e sim daqui a 2 anos. Isso retira o
poder do eleitor, que é o soberano, de escolher quem vai conduzir o
município nos próximos dois anos”, argumenta Gabriela Rollemberg de
Alencar, secretária geral da ABRADEP.
“Ao mesmo tempo é um precedente
perigoso. Porque, se você pode prorrogar mandato de prefeitos, porque
não pode prorrogar mandato de presidente da república, de deputado ou de
senador? Nunca na história de nossa República houve prorrogação de
mandato”, pontua.
Assim como a ABRADEP, um
estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também
defende que as eleições sejam adiadas somente por um período curto de
tempo.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) é outra instituição que se posicionou a favor de manter a data prevista para as eleições. Em ofício enviado aos presidentes da Câmara e do Senado,
o vice-procurador-geral Eleitoral, Renato Brill de Góes defende que em
outubro o número de casos de covid-19 já vai ter caído e que é possível
manter as datas de 4 e 25 de outubro. Mas também destaca que se a
mudança for inevitável, que o adiamento não passe de 30 dias.
Jornalista
brasiliense formado pela Universidade de Brasília (UnB), com passagens
em redações da capital. Trabalhou como repórter no Correio Braziliense e
Rádio CBN, além de agências de comunicação. Atualmente, integra a
redação do Brasil 61 com pautas de saúde e política.
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